segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

É rei, mas é menino.

-É rei e é estrela de quinta grandeza. É rei, mas é menino. Retrucava mariazinha com seu avô, que achava muita graça das intermináveis histórias da menina.

-É rei poderoso e imortal, levará cinco bilhões de anos para morrer então pra mim é imortal. E têm luz e calor pra manter vivo todo esses treco que respira aqui na terra e nos outros planetas, se vida houver por lá.

-É sua espertinha, o sol é rei. Ilumina nossos dias, esquenta nossos corações, é pontual e solícito, não nos deixa faltar luz e calor, que alimenta os vegetais, que alimenta os animais que por sua vez nos alimentam. Fora sua indiscutível importância para a manutenção da vida, o sol ainda nos presenteia com sua maravilhosa poesia, todos os dias ao nascer e ao se pôr. O sol colore o céu de singulares matizes e ímpares melodias, tons, formas, texturas, transformando o horizonte em festa panteônica de um deus só, ele mesmo, o inigualável, o rei, o Sol.

-É vô, mas eu já disse que é menino, é rei mas é menino.

-E porque o seria Mariazinha?

-Fecha os olhos e ouve.

-Não ouço nada criança.

-Você não tá fazendo direito, só ouve.

-Você está superestimando um ouvido velho e cansado, não ouço nada além da brisa e das ondas do mar.

- Tarde demais, ele já foi, feliz e maroto como sempre.

-Quem?

-O sol, todos os dias antes de ir embora, ele sorri. Uma risada tão peralta e gostosa que eu poderia jurar que as estrelas menores, suas súditas, estão por ali a fazer cócegas no rei.

-Quanta bobagem Mariazinha.

-Só porque você não consegue ouvir é bobagem vô?

-Não, não é. Eu tô quase surdo, não consigo ouvir a risada do rei.

-Mas não precisa de ouvido pra isso, eu ouço com o coração. Amanhã você tenta ouvir, e se não conseguir tenta no dia seguinte, e no seguinte e no seguinte até convencer o sol de que o seu coração é quente e bom osuficiente para entrar em sintonia com o seu maravilhoso riso.

E assim o fez. Velho, cansado e doente, o tempo não fora generoso com este senhor, mas todos os dias ele esperava, e tentava, fechava os olhos pra ouvir e nada.

É menino, é rei mas é menino, estas palavras dançavam em sua cabeça. Acomodado na sua cadeira de balanço da varanda, a brisa acariciando o rosto cansado e senil e os olhos fixos no mar e no sol que ia caindo lentamente ao seu encontro, lembrou-se ainda mais uma vez das palavras de Mariazinha: é menino, é rei mas é menino. E o silencio da tarde foi interrompido pelas gargalhadas da pequena Maria que vinha tropeçando nas pernas, rindo-se loucamente, carregando uma tigela de milho duro e seguida de uma pequena multidão de patos e galinhas. Caiu na terra semi-molhada, virando uma mistura de lama, cabelo, sorrisos e milho. Os animais catando grão a grão e a pequena rindo, rindo alto, rindo longe, como se ouvira piada engraça demais.

É rei mais é menino, e o velho cansado e feliz fechou os olhos e ouviu pela primeira vez o riso do rei, era alto e gostoso, ritmado e soluçante. Queria abrir os olhos e ver a neta brincando com os bichos no chão, mas adormeceu, ouvindo o encantador riso do sol. Foi o último som que ouviu na vida.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Conjuga-me

Conjuga-me
Que este presente foi dado
Conjuga-me
Que o futuro é caso pensado
Conjuga-me
No tempo em que verbalizo esse amor
Descomedido e descompassado amar
Conjuga-me nos tempos de outrora
Conjuga-me agora no mais que perfeito silêncio
Do beijo, do abraço e do coito inocente
De criança que sente que amar é doar-se e só
Conjuga-me, que o meu imperativo é condicional
Condiciono a você o meu presente futuro
E o amor que taquigrafei nestas palavras
E o amor que taquigrafei no teu corpo
E cada mordida intencionalmente libidinosa
Faz parte do indicativo de amar
Conjuga-me e eu vou gerundiando
Até que o nosso infinitivo se finde
No fechar de olhos e no brotar do pranto
Porque no momento longínquo
Em que esse amor não mais imperar
Deixarei de ter palavras e gestos e verbos
Para falar e pensar e andar e sorrir e viver
Conjuga-me
 Porque eu existo nas tuas palavras
Eu já verbalizei este amor, agora é a tua vez
Conjuga-me.

domingo, 27 de novembro de 2011

Partidas

Às vezes eu me retiro do nada
Sem eira, nem beira me recolho
Arranco as velhas raízes e parto
Em busca de outros conhecidos

Não os jogo fora, é verdade
Os velhos conhecidos, guardo
Na memória da doce distância
Na verdade eu me jogo fora,
Retiro-me deles, atiro-me longe
E procuro um novo espaço

Que me caiba inteira
Com meus vícios e fantasias
Com minhas bobeiras e sorrisos
Tentei deixar pra trás todos os vícios
Mas sem eles me perco na estrada.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O último poema de um homem solitário

Trancou-se num quarto vazio, passou uma semana inteira somente com a sua própria companhia. Sem álcool, sem drogas, sem comida, sem música, sem paz, sem sexo, sem papel, sem caneta e sem dormir. Sentia-se quase morto, precisava escrever seu ultimo poema, cortou os pulsos, escreveu na parede com o seu sangue, escreveu a coisa mais linda e doce que poderia ter escrito em toda sua vida, e antes que o pulsar em suas veias cessasse, assinou o poema e deitou-se a contemplá-lo, até morrer.
Me perguntaram, morreu de que? Essas pessoas da ciência não sabem de nada. Disseram muita coisa, que morreu de abstinência, de fome, de loucura, de cansaço, de sede ou por cortar os pulsos. Eu disse com toda certeza que a presença daquele homem em minha vida me dera: Oxi seu moço, deixa de dizer bobagem. Ele morreu de tédio, se eu estivesse aqui com ele, teríamos morrido de amor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A paz no Avesso

Eu vim para acabar com a tua paz
De um jeito gostoso e travesso
Eu vim trazer um pouco de cor
De um jeito assim, meio avesso
Eu vim, mas não para ficar aqui
Vim buscar-lhe para levar-lhe
Ali, bem ali, olha mais uma vez
Tem uma porta para o mundo
Bem ali de onde eu vim, vem
A paz que necessito não tem
Não tem silêncio, nem calma
Tem verde, tem flor, tem amor
Tem bicho do mato, tem rio
Tem vento na cara, tem areia
Areia dessas chatas que gruda
A paz que necessito não tem
Não tem espaço para a ordem
Não tem rima para a sorte, só
E somente só
Tem espaço para viver
Assim, meio assim, do avesso.

domingo, 23 de outubro de 2011

Lorac ( Rafael Muller)

Tu é a minha poeta viva favorita...

"Essas pessoas poéticas,
Poéticas pessoas,
Pessoas... poéticas." 

"Sabes que saudade e poesia
São as duas cores dos teu olhos,
Que o teu silêncio é predicado 
E o teu vestido nostalgia." 

"Sabes que teu jeito moreno de olhar
É dessas leituras prediletas
Que preenchem o instante
Entre o sonho e o verbalizar. "

"Sabes que esse teu sorriso
É fato, é foto, é a minha benção 
Nas taquigrafias do dizer, 
Pois vez ou outra inda me perco
Nesses mistérios de palavras tão suas... 

A culpa é dela

A culpa é dela e sempre dela, porque dela emana todas as culpas, a de amar, a de falar, a de pensar e a de viver...
É dela a culpa desta balburdia contínua, desta desordem coletiva, destes corações em alvoroço, destes olhos presos no rebolado libidinoso e do querer.
É dela a culpa pela música na vitrola, pelo arrepio que a noite provoca e da lembrança e da saudade e da vontade de estar com ela. Foi por culpa dela que conheci a falta, o desgosto, a frustração e o amor.
A culpa é dela pela minha tristeza, pela minha mania de querê-la, de amá-la e de senti-la minha, mas minha que a minha própria pele.
E de todas as culpas que ela tem a minha preferida é a de ser tão bela.
- A culpa é dela...

A moça da Janela

Encontrei-a muitas vezes
Com seus olhinhos perdidos
Com aquele tímido sorriso
Na janela a suspirar

Encontrei-a muitas vezes
Com seus cachos esvoaçados
Com aquele rosto corado
Na janela a suspirar

Em um infeliz dia
Acordei esperando o bom dia
Mas não tinha cacho, nem sorriso
Não tinha cor, não tinha ela
Não tinha flores na janela
A moça com quem sonho todo dia
A moça que me sorri todo dia
Hoje não me olhou, não acenou
Não sorriu

O meu dia nunca foi tão triste
Tão longo e tão sem cor
Esperei a noite inteira pela aurora
Para ver na janela outra vez
A moça, seu sorriso e as flores

Olha lá, olha ela
A moça da janela
Que passa a vida sonhando
Com um amor que nunca vem
Olha lá, olha ela me olhando
Encontrando no meu olhar
A mesma dor de quem espera
Olha lá, olha ela

-Esperando...

Il fiore blu

Un fiore blu nasceva nel giardino in mezzo a oltre fiori, mà tutti erano rossi, grandi e con molti petali. Il piccolo fiore blu si sentiva brutto e solitario perché tutti i fiori erano rossi e belli, appena lui aveva quel colore, le farfalle non si atteravano mai sul suoi petali. Un giorno per la prima volta il fiore guardò il cielo per dimenticare la sua tristezza, mà riconosceva nel cielo il colore blu che la natura gli aveva dato. Era blu, un mondo blu e vivo. Farfalle blu volavano veloci e un uccello blu girava nel cielo.
L’uccello non era veramente blu, era bianco, mà il fiore adesso pensava che tutto nel cielo era blu, blu come i suoi petali.
Lui sognava tutto il giorno di trasformarsi in un uccello per potere volare per il cielo, mà la sua fragile radice era presa al suolo. Un giorno un’uccello viniva a prendere semi nel suolo fra le rose, il fiorino involgó il su fino caule nella zampa dell’uccello chè si spaventò e volò via, strappando del suolo il piccolo fiore.
Era tanta felicità che il fiorino non poteva credere, finalmente volava. Volò tutto il giorno intrappolato alla zampa dell’uccello e si sentiva molto bene. Non era più solo un puntino blu in mezzo al giardino di rose. Volava, volava per il cielo.
La sua linfa stava evaporando lentamente nei suoi petali, come non era legato a terra, non poteva alimentarsi e stava lentamente perdendo potere e cadeva dalla zampa dell’uccello. É caduto vorticoso in aria come una piuma. I suoi petali appassiti finalmente sono riposati tra le rose bianche. È morto sognando che era un pezzo di cielo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Do avesso

Eu nasci assim, do avesso
Não tenho endereço fixo
Não tenho raiva nem apreço
Com as coisas do mundo

Eu cresci assim, do avesso
Tenho vícios, quase todos bons
Tenho amigos, quase todos bons
E ainda sei cozinhar

A minha opinião é contrária
A minha atitude é contrária
Eu ando em desalinho de mundo

Eu vivo assim, do avesso
Sonho todo dia, escrever poesia
Mas só sei escrever o avesso.

Da janela

Aberta, semi-aberta, convidativa
Vi da enorme janela a parca vida
Que não dorme na noite da cidade
Abracei-me aos meus medos de escuro
Segurei-me na insônia e contemplei
O céu expulsando sua escuridão lentamente


Os ratos e as putas num eterno trânsito solitário
Entre a solidão e o silêncio
Da noite que absorve tudo
Mas não adormece o meu olhar


Da enorme janela solitária
Que me acolheu como cama apiedada
Eu vi a noite e as minhas lembranças
O frio castigando o meu corpo
E meu olhar perdido, absorto
Embriagado nos vazios da cidade...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sob o cansaço...

Cansei, usei esta palavra muitas vezes este ano
Usei esta palavra muitas vezes nesta vida
Cansada de chorar feridas frágeis e sem sentido
Cansei, do engano, da dor e de todo aparato frágil
Das palavras desnecessárias e das opiniões alheias
Cansei, do sorriso que não dura muito e do adorno
Da fé que não dura, do amor que depois subjuga
Da carne que ao ser saciada apodrece, se anula
Do julgamento errôneo e sem direito a defesa
Da minha vida exposta, caricaturada sobre a mesa
Cansei desta minha mania de esperar respostas
De pessoas inúteis que nem de viver gosta
Se não for para do outro e para o outro sorrir
Cansei desta minha face menina sempre molhada
Desta minha boca pequena e tão usada, e para nada
Cansei deste corpo tão cansado da culpa, da luta
E dos dias...
Definitivamente cansei de ouvir que o mundo é assim mesmo
Que pra tudo dá-se um jeito
O jeito que vejo é morrer
Morrendo não faço mais que livrar-me da culpa
Que de alguma forma suja, também e minha
Cansei, e cansada descobri que a minha pele é dura
Mas não o meu coração, que se arrebenta a cada dia
Ouvindo de um ser qualquer dor em forma de palavras
Foi um aviso, foi um mal entendido, foi uma ilusão
Foi uma inverdade, foi um devaneio, foi um anseio
Que se fodam as definições e os meios
Cansei, cansei até de dizer que cansei
Mas mesmo cansada a minha dor não cansa
E dói]
Dói hoje a dor de ontem, a de anteontem
E vai doer todos os dias até que eu sare
Desta minha estranha mania
De viver...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Insônia

Insônia pode até ser mal dos poetas
Mas o meu caso, senhorita, é mais cômico e mais trágico...
O meu mal é viver.
Vivendo sinto na pele todos os dias
A solidão das cidades e a sua devassidão
Dos seus cidadãos inertes e infames
Ganho todos os dias uma nova dor
E ainda me cobram integridade e moral
Durmo se consigo, não se quero
Dormir é para quem consegue fechar olhos
E apagar na retina da inquietude os fatos
Vazios e insanos do cotidiano semi-feliz
Se eu tivesse menos sóbria hoje
Diria até que o meu mal maior, é amar...

Na farmácia

Seu farmacêutico, por favor
Me dá um Band-aid
Esparadrapo, um cola-tudo
E dois parafusos
- Este último não tem.

Então me dá por favor
Um anti-inflamatório
Uma pomada pra olhos
E um anti-paranóico
- Este último não tem.

Me dê ai um anti-ácido
Uma fanta uva
Um maço de cigarros
E um solvente de dúvidas
- Este último não tem.

Então me dá por gentileza
Um energético
Um calmante
E duas caixas grandes
De anti-timidez
- Este último não tem.

Então vou levar
Somente o necessário
Sossego solúvel
Aspirina pra tristeza
E um remédio de memória
-Este ultimo não tem.

O senhor me desculpe
Mas tenho quase certeza
Que esses trecos que preciso
Tem na sua prateleira

Tem sim senhora
Mas uma Dona sem rosto
Passou aqui em agosto
E levou tudo que tinha
Ela tinha o mesmo sorriso
Exatamente o mesmo sorriso
Triste e perdido
Que vês agora no vidro
Refletindo aflição
E se ela se lembrasse sempre
De tomar os remédios de mente
Desses que seguram a memória
Ia lembrar-se agora
Que está sempre esgotado
Este aparato frágil
Que não resolve mais
Que azia e insônia

Senhor farmacêutico
Lembrei que esqueci algo
Vou-me embora, não levarei nada
Vou procurar essa dona egoísta
Que levou tudo que preciso
Vou tomar minha dose diária de juízo
Dormir e sonhar que não esqueci de tomar
Minha pílula anti- esquecimento
Mas embrulha por gentileza
Aquelas aspirinas, por favor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

De repente...

De repente branco, de repente manso
Esse pensamento que embora bruto
Pensa sempre a fundo no amor e tudo mais
De repente cinza, branco silêncio
A voz doce no toca fitas empalideceu as palavras
No pensamento que outrora
Em balburdia contínua me dizia: escreva
De repente rosa e botões pequeninos
Lembrando-me as palavras que eu não esqueci
De repente poesia, torrente, dedos em tropeço
Aprisionando palavras que tentavam fugir
De repente noite que parecia dia

De repente Eu
Eu-poesia
De repente nós
De repente a sós
De repente amor

Aprisionei-as entre linhas para pedir o que não peço
E nas entrelinhas dos versos, escondi alguém
Alguém que não era eu, mas que de repente meu
Deu-me algo sobre o que escrever
Escrevi com o pensamento branco
Branco como o pensar do esquecimento
Pensar que nesse momento, era pensar de amor
E escrevendo percebi que se te fogem as palavras
As mesmas que te deixam te trazem o que amar
Te fiz nas palavras, ser sem mundo e sem amor
E para que não fujas te dei o dom do não saber
Bom foi perceber que podendo mesmo partir
Preferistes ficar

De repente meu
De repente Eu
De repente nós
Nós-poesia...

Pedaços e momentos

Encontros, desencontros, atrasos
Abraços apertados, sorrisos, saudades
De uma vida inteira que durou um dia
O álcool, o palco, a areia, o violão, o sorrir
E cada minuto de tempo “desperdiçado”
Rende-me uma vida inteira de boas lembranças
A grama acolhendo em seu verde o som
O sorriso e o canto saudoso de tudo
Palmas para o sol que ilumina a nossa vida
Sim, eu adoro esse período do dia
Sim mais sorrisos, a mulher da selva chegou
O mar, o céu, um sol, um ré e um lá
Toquem Raul, mas também serve isso ai
Eu adoro a areia da praia enfim...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobras

Não aquela de resto, mas a sobra do excesso.


O que já não me servia era levado
Presenteado a outras de menos posses
Que passeavam ligeiras a nova roupa
O cabelo crespo, solto, revolto
Em original liberdade do pentear
Eu com o meu cabelo uniforme, preso
Em intermináveis tranças de menina cuidada
Me sentia igualmente livre quando as vezes
Traquinamente arrancava as minhas fitas
O vestido florido do ano passado
Vestia-se de nova primavera
Cobrindo corpos sonhadores
Pequenos, magros, frágeis
O sapato pequenino piamente polido
Machucavam pés que já não eram meus
Os brinquedos menos preferidos
Esses não eram levados
Mas a minha inocência de saber que o meu pouco
Era muito por companhia
Fazia me dá-los de boa vontade
Lembro-me das bonecas que partiam
-Foram à Paris diziam
As recalcadas que ficavam
O tecido roubado da caixinha
Pedaços de linha e pontinhos de sangue
Nos dedos traquinos e habilidosos de tear
Produzindo vestidos de festa e todo tipo de remendo
Às bonecas, peças dos melhores sonhos de infância
E se ainda hoje recordo-me do não ter muito
E ainda assim ter tudo aos olhos de quem pouco tinha
Também recordo-me das preces de noites e dias
Em que a um certo pai do céu pedia
- “ Que nunca me sobre,
Para que a outro não falte”
Amém!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fotografias

Revirando a velha gaveta, bagunça, lembranças
Encontrei a minha vida impressa em ”Glossy paper”
Fotografias recortadas, poesias rabiscadas, discos
Fotos dos fatos e sorrisos felizes de uma vida inteira
Encontrei o sorriso empoeirado do primeiro amor
Recordei o amigo simples de sorriso fácil que se foi
Da atriz que escolheu papel de pouco brilho viver
Da menina virgem de olhos acesos e sutis abraços
Da dedicada amiga que nunca negou combro
De uma pilha de imagens e sonhos que nunca realizei
Da mulher de pouco seio e muita petulância
Da felicidade e do adeus à inesquecível infância
Das tardes produtivas de livros e amigos na praia
E dos por de sóis eternizados em fotografias
Contabilizei dias e dias, retratando a felicidade sóbria
Da embriaguez coletiva retratei os meios e os fins
Lembrei-me também da menina de medos de escuro
Mas esta eu não relembrei porque de fato nunca esqueci
Fotografias são peças de quebra-cabeças de vida
Vida, fato, dia, noite, inteira, meia, longa, toda a vida
Aprisionei instantes de pura felicidade e outros tantos
De felicidade nem tão pura, nem tão pouca
Só felicidade, mas tive a fineza e inocência de capturar
A contra gosto de sábios, momentos de tristeza bela
A lágrima de outrora parece menos quente e menos densa
Bem como a beleza dos pequenos seios anunciando fertilidade
Por favor, fotografem a menina de medos de escuro
Porque a farei partir logo que achar meios para tal
Fechei a gaveta com sua poeira e velharias
Mas a ausência de luz não apaga lembranças
Mas a ausência de luz não apaga seus medos
Por favor, fotografem-na mais uma vez
Ensaiarei o melhor sorriso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Poeta Eu?

Não serei o poeta de um mundo caduco.
(Carlos Drummond de Andrade)
   

Hoje me descobri poeta de fases
Meditava em ser ou não ser
Poeticamente meditava pois,
Poetar é mais que escrever poesias
O poeta é a poesia viva e física
Entre indagações de ser e estar
Titubeei em definir-me poeta
Entretanto a poesia escrita na face
Na veia, no sangue, na pele, no ar
Fez-me entender que respiro poesia
Eu penso poesia, escrevo poesia, falo
Poesia de vestir, de pintar e de amar
Dei-me conta inclusive que brigo poesia
Insulto em poesia, peço em poesia
Eu sou poesia em forma de menina
Poesia em cachos, sorrisos e olhares
Eu sou poeta-poetisa, poetador
Poetisa eu? Eu, eu-poesia.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Piccolo poema della solitudine

Era sabato, sabato sera e fuori ancora nevicava
La mia pelle fredda e triste, la mia anima tremava
Attraverso la finestra, la solitudine bianca di giorni freddi
E l'unico suono che sentiva è il fuoco vivo nel camino
Il silenzio inquietante di nostalgia che fa male al cuore
La solitudine, la lettera non inviata e il telefono
Dormo per sognare com il sole accogliente de estate
Quando trovo là fuori persone che non conoscono
Le persone che non sanno sorridere, mà sono persone
E in qualche modo, freddo e senza amore
Farmi dimenticare da piccoli momenti
Il peso della solitudine fredda dei miei giorni.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Latim

Latim, tempo bom esse em que estudava latim
A infância, cansada de tanta coisa, dando adeus
O mesmo adeus cínico de ex-namorados que se amam
Sim as declinações, amat quem pather nostrum?
Só aprendi latim por que me mandaram
Mas descobri de fato que palavras têm raízes
E que nascem, crescem, reproduzem, mas não morrem
Por que ficam memorizadas no “Ab aeterno” das nossas memórias.

domingo, 4 de setembro de 2011

Pretensões

A palavra usada como arma de ferir o ar
Meio insosso de espalhar a ventos de norte
Idéias absurdas e platonicidades de um ser
Mesquinhez de espírito fugacidade do querer
Colorir telas inexistentes e sabores amargos
Que nunca presenteado foi a ninguém
Mais um, mas uns, gritos de virilidade
Porta entre aberta é convite ou não?
O grito desesperado à multidão iludida
EU, tenho sou posso fiz ganhei ensinei
E todos os verbos em primeira pessoa
E do outro lado do rio uma criança chora
Com cacos de vidro nas mãos desejando paz
Absolvição de si própria pela dor fútil
Que a carne trêmula e voluptuosa infringiu
A noite se foi, mas não levou consigo a escuridão
Dias que durou uma única noite que ainda não acordou
Prefiro acreditar que é a falta de luz que não te deixa ver
Que um circo é mais bonito sem bestas-feras
Que comece o show, pois o palhaço terminou seu roteiro
E a criança com seus vidros e sua dor veio lhe prestigiar
Mais um, mas uns silêncios incompreendidos
Entre o gozar e o amar encontraria um mar de porquês
Mas o gozo veio enfim dias depois com palhaço de maior preço
Mais um, mais uns reflexos turvos no espelho
A sonoridade da pretensão é harmônica
Encontrar em palavras alheias a vida e o amor que nunca tivera
Porque tem ego ferido de viajante solitário, Infante renegado
Incompreendido de fato ou complexado por essência?
Não, não escuto a sonoridade do seu barquinho
Navegando por águas rasas para não afundar no abismo da normalidade
Deus, uma criança em porta de circo
Engolindo vidros por mero descuido
Como saber que a insanidade a tomou
Se ela não fala e você não escuta?
Mas as palavras pulsantes em vazios de embriaguez
São memórias apagadas de um gozar egoísta
O ego grosseiro nublando o discernimento
O sorriso amarelo que subjugas também está no teu rosto
A inquietude, o incômodo da presença muda é fato
Fotografia de uma vergonha que não emana da carne em si
Mas dos murmúrios levianos que ecoam espaços vãos
Sobre a criança, seus sorrisos, sua quietude e seus vidros
Não, esta criança não ama ninguém
Porque lhe sobram palavras e planos
Falta espaço para amor e até mesmo o ódio incitado em si morreu
No coração da criança inventada que morre e mata por um amor sujo
Mas como amar desprezível Ser que inventa ser o que nunca foi?
Que as cortinas do circo se fechem, preciso de novo roteiro
Trabalhar com mentiras é mais fácil, mas faíscas também queimam
Como cansar do que nunca teve?
Como falar de amor se nunca amou?
Como falar de beleza se o olho duro, envidrado só enxerga a sua falsa paz
Mais um, mais uns gritos desesperados
E se cremos de fato que palavra é poder
Permito-me presentear à criança de garganta estilhaçada
Toda calma que houver nessa vida, e mais um pouco por garantia
Ao palhaço de palavras artistas o sentimento mais cristão que houver
Que é também nota musical
Mais um, mais uns personagens bem sucedidos
Rochedo também esfacela contra o mar de fantasias
Ainda que leve uma vida inteira, todo personagem um dia morre
E os murmúrios levianos, enterre-os com ele
E os enganos tempestuosos enterre-os com ele
E o amor que você nunca terá porque sequer existiu
Esse não enterre, continue alimentando-se dele
Pois te rende ótimas poesias
Liberdade é vento de fim de tarde
Ainda vejo o seu barquinho afundando aos poucos
No lago fúnebre da sua solidão
E do outro lado do rio uma criança chora
Com cacos de vidro nas mãos desejando paz
Absolvição de si própria pela dor fútil
Que a carne trêmula e voluptuosa infringiu
E como provar que o sorriso é triste?
Há muito de calma no coração de uma criança.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Meios poéticos de adeus


A palavra doce, a palavra sangue
Colorindo amores, sonhos e porquês
O amor em verso, prosa e tudo mais
A poesia presente, a poesia poente
A delatar entre ossos frágeis frios
O Dom do querer e que mal querer
A paz que prometi não encontrei
Encontrei enfim sorrisos incertos
Intenções de mal amar desses dias
Fúteis, promíscuos e fáceis
Almejo distância e nada mais
Mas o ouvido surdo, cego e algoz
Filtrando grunhidos de amor inexistente
Traduzindo promessas não prometidas
Cantando canções não escritas
E pintando telas espectros
Me faz economizar  lágrimas
Venho tristemente contar-lhe
Que existem meios poéticos de adeus.




terça-feira, 30 de agosto de 2011

De olhar...


Quem na vida dá direito às pessoas de entrarem em ti de tal forma a pensar-te e descrever-te em poesias, em versos, prosas e jornais?

O olho preto fosco morto vivo
O olho preto brilhante sagaz
Conheci alguém magro de espírito
Que tentando encontrar brechas
Brechas de ser e de estar
Adentrou pelo meu frágil olhar
Abrindo trilha proibida
Na mata virgem do meu ser
Produzindo canções do eu
Poetizando a minha respiração
E ferindo piamente o pudor
Da tristeza inerte dos meus dias.

Quem na vida traduz a sua dor e joga na tua cara a tristeza dos olhos negros que embora confusos em luzes de engano possuem um ponto de firmeza?

A dor alheia é mais doce
É musica de baile de outrora
E olhos pequeninos são traje
De festa literária do ser

E quem na vida disse que eu tenho medo de pessoas que usam palavras para infringir luz à escuridão por essência?

E da noite fiz dia com um rabisco
Peregrinei palavras proibidas
Brincando de Deus por uns dias
Baguncei o sistema solar por engano
Presentiei prantos e sorrisos amarelos

Odeio todos os poetas, principalmente os que conhecem o poder que tem as palavras e consequentemente eles, por terem domínio sobre as mesmas. Por suposto (excepcionalmente não me odeio).

O silêncio mais alto do dia

As pessoas andam enlouquecendo ao meu redor
Ouvi o sábio dizer que perdeu razões, razão e fé
O autossuficiente sentiu falta do amor que dispensa
O louco provou a todos que Deus se existe é mulher
Achei cartas nas minhas gavetas empoeiradas
E fotografias dos tempos bons e da infância calma
Encontrei recortes amassados, pedaços de vida e alma
Da mulher que outrora foi rainha, mas nunca senhora
Sequer de si mesma...
O mar requisitou-me enfim, hoje por motivos pares
Mais uma vez acolhendo a tristeza parca
Que os seres de terra presenteiam aos irmãos
Amostra grátis de dor, decepção e ceticismo barato
Por favor, fumem todos os cigarros
A minha boca seca não os quer mais
Mas o silêncio mais alto do dia
Foi silêncio dormido de dias corridos
Esperei uma semana inteira para enfim dizer
Ao coração inerte e embriagado
Que o teu silêncio não me ofende mais
E que as mãos sujas não me alcançarão
E as palavras navalhas não mais me atravessarão
Porque se ouvidos ignoram chamados
Posso escrever nos teus olhos a palavra dor
E a caneta vermelha que fere
Devolvo amanhã
...
Junto com teus insultos

domingo, 28 de agosto de 2011

Não obrigada!

O meu não não é um sim disfarçado
A minha tristeza não precisa de cuidados
Dela me ocupo eu, minha razão e meu ego
Erros de vaidade, aceitar afagos gratuitos
Aceitabilidade essa que traz consigo sempre
O erro, o engano, a briga e a palavra suja
Camuflando um cuidar de amor maior
Há de se negar o colo amigo se preciso
E a conversa agradável e o filme da tv
Há de se dispensar toda educação
Porque as segundas são também terceiras
Quartas, quintas e todas as más intenções.
Ensinaram-me a não negar o bem-querer
E o meu sorriso triste? não foi presente
A ordem natural das coisas é o esquecer
A minha tristeza não precisa de cuidados
Dela me ocupo eu, minha razão e meu ego
O sorriso triste é meu, o que de seu tiver
É só resquício de uma cegueira breve
É só resquício de uma cegueira
É só resquício
É só.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Porquês e Pra quês...

Perguntaram-me porque escrevo
Perguntaram-me para que escrevo
Eu lhes pergunto para que vives?
Perguntaram-me o que é uma poesia
A diferença entre a noite e o dia
O mar, a areia em meus cabelos
O cigarro, o perfume e a embriaguez
E indago-me ainda mais uma vez
Não se engasgas com tantos porquês?
E como besta jocosa que sou
Sem necessitar em nada me explicar
Vou contar-lhes o que penso
Sobre tudo o que pensas precisar delimitar
O mar é agua, a areia não
O dia é luz, a noite escuridão
O cigarro e o meu perfume
Ambos são para lhe embriagar
E os cabelos onde ficam?
Bem, dos meus cachos há quem cuidar
Mas a poesia? Essa que ah...
Poesias são letras que não se pode educar
São tentativas desesperadas
De desobstruir as vias respiratórias
Deste meu ser literário
Em constante conflito emocional
Ocasionado por motivos vários
Desde os mais nobres como o amor e o ódio
Até os mais banais como o amor e o ódio
E tenho impressão tal
Que tentando aliviar
O trânsito de sentidos
Digo coisas que não digo
E digo coisas que nunca direi
Escrevo além do permitido
E se compreendes o que digo
Não voltarás a perguntar
Mas se caso pergunte
Muito por muito escutará
Que poesia é amor caligrafado.

Testamento

Para o estranho que me entende e me sente como nem eu mesma ouso, dois sorrisos; um de quase amor, outro de quase tristeza.
Para o louco que ouve coisas que eu não digo e que não diz as coisas que eu nunca precisei ouvir, um suspiro e um lamento pelo adeus desnecessário.
Para o bobo de sorriso fácil, de olhares fáceis, de palavras tolas e colo quente; um pedido, fica.
Para o errado que se julga certo e que teima em negar o amor que tem; sorte, pois vai precisar.
Para o estranho de uma noite só, de palavras corretas, lábios quentes e mãos puerilmente maliciosas; uma ordem, vem.
E para mim, ser de poucas palavras, atos loucos e medos inexistentes; a certeza de que viver por um amor é bom, mas morrer todos os dias por todos os outros amores é ainda melhor.
Aos pobres, minha coleção de moedas raras.

Leve som de mordida

Ao cerrar os dentes suavemente perversos
Tendo entre eles um pedaço vivo de pele
Imediatamente segreguei os sons
O relógio, o cachorro na rua e além da brisa
O perturbador zumbido do silêncio
Como mensurar um som tão tátil?
Como tatear a sonoridade do querer?
Embriaguei-me em pensamentos newtonianos
E lembrei-me que não sou boa em exatidões
Cerrei os dentes novamente
Tendo entre eles além de pele, um coração
E enfim ouvi o leve som de uma mordida
Sem identidade propriamente sua
É uma leve mistura de suspiro interrompido
Com um tempero de libido
E cor de amor
E se precisa de algo mais especifico
Para entender a loucura que digo
Morde
E compreenderá cada detalhe
Desse som que não se ouve.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Batom Vermelho

A minha cor preferida
é vermelho
A minha dor preferida
é vermelho
Na melancólica despedida
O sol esconde-se no mar
Deixando brilhar a lua
Estrela maior da libido
Me enfeito de paz
Falsa paz ou não
Levo no bolso a cor do sim
Que embora as vezes seja não
Marco vidas vazias
Com um sorriso simples, vão
Que já foi um dia então
De propriedade de amor
O meu alcool é vermelho
A minha droga é vermelho
Em batom vermelho embriago-me
Rapto olhares, malícias, desejos
E aproveitando o ensejo
Venho dizer que é vermelho
A cor da minha saudade
Pinto os lábios e esqueço
Que se de amor não se vive
Bebo e me pinto para disfarçar
Porque a cor da tristeza
São todas as que não são de amor.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Poesia viajante


Escrevi
Em relapsos de lucidez
As palavras mais doces
Que os olhos vagos me confessaram
Através de intermináveis silêncios
Eu ouvi meu nome e um pedido
A minha eloquência tímida
Ditando passos ritmados
De toque com toque e pudor
Refugiando no negrume
De olhos cerrados
Por força da noite
O desejo, a febre, a sede
De palavras solitárias
Em textos intermináveis
Que ensinavam a perceber
E discernir cada intensidade
Daquele embriagante silêncio
Um espasmo de luz, o sol, o dia
E o teu silencio confuso
Aprisionou-me dentro de mim
Minhas palavras tão fáceis ligeiras
Esvaíram-se no primeiro pudor
Que um sorriso vago me infringiu
Perdi as minhas palavras
Mas lembro de cada arrepio
Cada suspiro
Cada beijo
Cada toque
Cada rima
Cada verso mal rimado
Cada lágrima
Cada sorriso
E de cada um
Dos seus intermináveis silêncios.

sábado, 5 de março de 2011

Incógnitas

Loucura é como denomino
Eu e os demais
O que faço e o que sinto
Em meio a dias férteis
A feminilidade à flor da pele
Eu grito
Eu choro
Eu os desespero
Meu eu se esvaindo em lágrimas
Inexplicáveis lágrimas
De amor intenso
De tristeza insana
De insana alegria
De alegria intensa
Contrariando o que pensa
Subvertendo o que diz
Clamando carícias
Ó sagrado ventre fecundo
Vira tuas costas ao mundo
Mergulha dentro de si
Me enfeintando de mágica beleza
Exalando um olor de libido
Aflorando meus instintos
De fêmea, mãe, menina, mulher
Perdoáveis gritos
Intermináveis dilemas intrínsecos
Guerra interminável
Batalha invencível
Entre eu e minha fonte de vida
Pontualmente na décima primeira aurora
A minha razão chora
O meu corpo ri
Autorizada pela natureza
Me envolve de rara beleza
Me torna algoz do meu temperamento
Me faz entristecer de contentamento
E transformar em lágrimas
Os recorrentes sorrisos
Me faz cair e levantar
Me faz permanecer de pé
Me faz ser o rio, a ponte
O ferro e a ferida
Me faz ser fonte de vida
Me faz ser mulher.

terça-feira, 1 de março de 2011

Porquês

Indagantes rostos transbordam meu espírito
Perguntas e questionamentos vindouros e de outrora
Acercando-se da saudade mais bonita
Confabulo sobre sorrisos dedicados
Tecendo respostas ininteligíveis
Me esquivo das indagações e exalo porquês
E os rostos antes indagantes e curiosos
Agora são sombras confusas de espectros perdidos
Não entendo a necessidade de esgotar as coisas
Explicando-as e detalhando-as minuciosamente
Mas se ainda assim queres respostas
Esforço-me por presenteá-las
Mas sinceramente me perco nas palavras
Queria dizer alguma coisa
Mas só consigo pensar em silêncio
Na incapacidade de dizer o que penso
Direi o que sinto, ou melhor, direi assim que definir
Mas não lhe direi palavras falsas ou incertas
Pois bem sei que são sentimentos raros
Ao menos admita caro senhor
Que se perdeu em meio a cachos e porquês.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Coração aventureiro


Espírito inquieto, curioso, furioso...
O pulsar de um coração aventureiro
É desencadeado pelo cheiro gasoso
Que anuncia uma nova viagem
Pela areia teimosa que gruda no cabelo
Pela água cristalina que reflete um sorriso
Pelo sol que nasce e se põe, nasce e se põe
Pela terra que guarda uma assinatura descuidada
Pelo vento que despenteia, mas refresca a pele
É canto de passarinho, que não se resume
A solidão de uma gaiola
É canto de passarinho, que mesmo preso
Canta, encanta e desmanda
É canto de passarinho
Que precisa estar em todos os mundos
Tudo ao mesmo tempo
É canto de passarinho
Que ecoa nos lugares mais belos
Espantando a solidão...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sexo, Bossa Nova e Chocolate...

Que se danem as minhas poesias infantis
Mas não as critiquem, são minhas e não suas
Que se danem as regras de qualquer sorte
Tenho capacidade de lapidar meus próprios limites
Que se danem as notas vermelhas no meu boletim
O meu conhecimento não deposito em papéis
Não é revolta, é só um grito, um pedido
Eu peço tanto que me deixem em paz
Eu só preciso de música e um pouco mais de sol
Veja só o mar, tem ondas e sujeira
Veja a areia da praia, tem conchas e sujeira
Não me peça para abaixar o volume
Eu não me meto em suas leis
Não me diga o que comer, pois ainda assim comerei
Eu quero é paz, eu quero é mais
Olha só a minha boca, tenho um belo sorriso
Nos bolsos levo figuras e algum dinheiro
Não me ordene, não me impeça, não me xingue
Não incomodo, sou bicho de poucas palavras
Eu quero é musica, quero açúcar, quero amor
Eu quero sexo, bossa nova e chocolate
E quando às seis da tarde eu parar pra ver o sol
Respeite-o
Deixe-o ir embora sem incomodá-lo
Para que ele volte amanhã.

Achismos...


Acho que acharam que eu achei que estavam achando que eu não achava nada sobre nada nem ninguém.
Mas a verdade, a minha verdade, é que eu acho que acham que sou louca.
Uma metade acha isso.
A outra não acha nada.
Mas a verdade ( e essa é verdadeiramente minha) é que eu acho que naõ acho nada.
Sinceramente não vim ao mundo para especular nada a respeito das coisas.
Não tenho mesmo que achar nada até porque nunca estive procurando por coisa alguma.
Posso refletir, duvidar, questionar, mas se for pra achar que seja ouro.
E para quem continua achando que eu acho que sei o que acham de mim estão enganados.
Sobre mim eu só tenho certezas, sobre os outros eu tenho dúvidas e sobre a vida, esperança de que um dia ninguém ache porra nenhuma, mas que nunca deixem de procurar.


O que tenho nos olhos...


Eu tenho nos olhos o brilho das luas
Que não é um brilho próprio
Mas que é encantador
Olhos dengosos que demonstram que querem algo
Olhos dengosos que falam de amor
Olhos dengosos que riem e que choram
Olhos sem vontade própria
Olhos coloridos que passeiam tímidos
E desde quando preto é cor?
Olhos negros, impenetráveis
Que figuram dureza
Mas que de tanta beleza
Enganam e enganam bem
São olhos fortes, olhos frágeis
Que entre sorrisos amáveis
Denunciam quem é quem
São olhos solitários
Que imitam o orvalho
Deixam a água brotar
São olhos covardes
Que teem simplesmte
Vontade de chorar
Mas o que tenho nos olhos
É a imagen de um bem
Projetada na íris por reflexos da mente
Da mente e do coração
Esse brilho fajuto
Que mais me parece luto
Nada mais é que uma triste expressão
São lágrimas,pérolas de lágrimas
Lágrimas absurdas
De uma antiga paixão...

Isso não é uma poesia...


E talvez você não entenda
Mas eu não encontro outra forma de dizer
Só sei que isso não se explica
E por vezes nem eu consigo entender
Manifesta-se de tal forma
Que me eleva a outra dimensão
Não é ansia, nem amor, nem desejo
Nem euforia, nem displincência, nem paixão
Eu defino como amizade
Mas acho que não tenho razão
Uma bolinha de chocolate não tem muito sentido
Mas palavras soltas ao pé do ouvido
Dão um outro rumo ao que vejo na tela
Esqueço tudo que me cerca e me cerco desse brilho
Seu cabelo acariciando meu rosto
Me parece um afago louco
De quem não sabe sequer o que dizer
E o tempo que parece parado
Me engana como se fosse fácil
Fácil mesmo;é não me entender
Porque as vezes
Num silêncio profundo
Eu mergulho fundo,tão fundo
Que acho que não terá mais volta
Daí a pouco nossa mão se solta
E...putz! ainda estamos aqui
E se minha mão percorre teu peito
Com o ouvido não escuto direito
Só com a mão consigo ouvir
Esse bater acelerado...
E tudo parece-me errado
E tudo parece-me normal!
O que sei de fato
É que, medindo meus passos
Não chego a lugar algum
E o negro que surge agora
Nos avisa que, embora
A noite ainda esteja incompleta
A nossa rotina se encerra
Com o abraço final
Tudo volta ao normal
E sempre que você me esquece
Meu lado criança enlouquece
Porque tendo sempre o que preciso
Começo a pensar que preciso do que não tenho
Pois sendo mais difícil o caminho
Mais incerta é a chegada
E agindo como se não soubessemos de nada
Somos como crianças que não sabem perder
E sem saber o que irá acontecer
Esperamos que aconteça logo
E, se lhe digo que choro
Me perdoe se sem querer
Alguma vez nessa vida
Eu cobrei de você
Algo que não vi em seus olhos!

Uma nova primavera

E num outono lhe conheci
No começo nada senti
Nada mais que uma ternura
Comum e indiferente
Mas o que tem que acontecer
Acontece sem querer
Sei que querendo ou não
Aprendi a amar você
Durante o inverno
Meu coração permaneceu frio
Afinal de contas ainda estava vazio
Esse amor chegou mais tarde
Em meio a uma tempestade
De sentimentos difusos
E meu coração ainda confuso
Entregou-se a você
E por toda a primavera
Ele sonha e te espera
Um coração travesso
Que sequer sabe o que faz
Mas o verão chegou
A distância os separou
E um olhar triste
Expus em meu rosto
Me entreguei com tanto gosto
E tanta falta você faz
Tentei esquecer-te
E não consegui jamais
E tanto tempo mergulhei em solidão
Dei passos falsos, confusos, difusos
E seu cheiro não saiu de mim
Sua boca ainda me beija
E tudo que ela desja
É dizer-me gracejos pueris
Mas acontece que agora
Depois de um longo outono
E um frio e solitário inverno
Uma nova primavera espero
E quiçá uma ainda mais florida
Ela chegou enfim
Trouxe você novamente pra mim
Só assim meu coração sossegou
Noites lindas,dias intensos
E esse amor que parece não ter fim
Você me agarra, me beija, maltrata
Sabe que me tem nas mãos
Agora que te possuo
Já não quero mais não
Não é mero capricho
É só desilusão
Esperei-a por tanto tempo
Agora que ela chegou
So queria que não tivesse trazido você
Assim tão mudado
E o amor que te dedico
Guardarei em minh'alma
Até que você retorne
Ao que um dia você foi
E por toda a primavera
Ele sonha e te espera
Meu coração só se fortaleceu
E todo esse amor que você me dedica
Já não quero para essa vida
E quiçá para outras mais
E durante a primavera
Permanecerei sozinha
Me perdoe se não compreendo
Seu novo eu, se prefiro o velho
Esperarei o quanto puder
E por pior que possa parecer
...
Eu prefiro o inverno!


Um amor inventado...

Pintamos um belo quadro
Mas a tinta secou e não e fizemos os retoques
Tinha tudo pra ser a mais bela obra de arte
Mas agora é só mais uma pintura entre tantas outras
Doce ilusão da artista
É ver sua obra encarnada
Falando, cantando e sorrindo
Qual magia é capaz de tal proeza?
Se o que pintas exprime tanta beleza
Como podes estar assim tão triste?
Pintastes palavras tão loucas
Pintamos estrelas no mar
Tecemos o nosso próprio mundo
Plantamos o nosso próprio jardim
Promessas antigas que nunca cumpri
Descobri que rosas vivem no mar
Quiçá até no céu
Quando se apaixonam pelas estrelas
Enchestes meu mundo de cores
De sons, aromas e sabores
Os mais doces dentre os quais já sonhei
E o que parecia confuso
Tornou-se simples e claro
E todos os sorrisos lhe trago
E novas promessas que não cumprirei
De todos os amores que colori nas palavras
Este será o mais amargo
Sendo mais intenso que um raio
Exige do meu coração
Mais do que ele pode suportar
Está em minha mente
Em todo meu corpo
Ocupa toda a tela
Se me arrancarem uma pétala
Ao invés de sangue
Escorrerá amor
O que acontece com nossa razão
Quando almejamos ser amados
O que acontece com nosso coração
Quando estamos enamorados
É uma dessas perguntas sem respostas
E tudo na vida me mostra
Que fazes de mim o que bem quer
Já faz tanto tempo
A tinta secou
O tom esmaeceu
E desse amor inventado
Apenas esta pintura ficou
Aquela que era bela
Aquela que pintamos
E quão era belo aquele olhar
E quão eram importantes aquelas flores
E tanta falta a razão me faz
Ela partiu
De mãos dadas com suas palavras
Foi então que descobri
Que tinha perdido meus espinhos
Ingênua saudade
O que houve na verdade
É que a magia se perdeu pelo caminho...