terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sobre amor e poesia...

Julho passou, agostou esvaiu e junho por sorte de antigos escritos teve seu nome gravado na vitrine. Ora bolas, sempre achei que o amor me emburrecia, me alienava, mas depois daquela noite e da releitura dos nossos corpos em repouso, constatei que o amor não menospreza minha produção poética, é que na verdade de caprichoso que é, faz de mim o que bem quer, me muda sem dó. Passei de poeta das letras, para poeta de mesa, de cama, de manha, de beijo , de abraço, de coito, de arrocho, de riso e de amor. Não escrevo, mas vivo, todo dia, em tudo que faço,poesia. E se um dia tempo me sobrar, venho por meio de letras caligrafar, toda a poesia que produzo noite e dia

sábado, 16 de junho de 2012

A vida despenteia


Precisaria mil fitas para enfeitar
Para segurar cachos e juízo no lugar
As brisas não precisam de convites
Entram por todas as brechas e ocos
Causam o mais doce e suave alvoroço
E também não aceitam ordens

Os ventos das folias e afagos
Produzindo assovios bobos
Parecendo samba de pouca nota
Desarrumando o penteado novo

O abraço desarruma
O amasso desarruma
O beijo, o leito, o coito
O caminhar desarruma
O pular desarruma
E despenteada vou,
Feliz.

domingo, 3 de junho de 2012

Corpos no mar


Doía, de fora para dentro doía. Uma dor estranha e aparentemente sem origem definida, mas doía. Com o braço jogado para fora da cama, vasculhei a bagunça do chão e encontrei o roupão de cetim, o vesti, sai.
Da pequena varanda de vista para o mar eu mergulhei, era gelado e revolto, eu lesa e dolorida, deixava as ondas me jogarem contra as pedras limosas do meu próprio medo, e num arremesso mais forte, despertei e contemplei o mar, calmo e povoado de pequenas embarcações, apenas levemente acariciado pela brisa, de repente as vi. Eram muitas pessoas, pessoas não, eram corpos, corpos vivos e sem rostos, que se agarravam as bordas dos pequenos barcos para não afundar naquele mar calmo e seguro. Eu me vi ali, no meio daqueles corpos, o corpo frágil e belo em conflito, consigo e com o mundo. Veio a chuva misturando-se às minhas lágrimas, e a dor ainda doía. Eu também, aqui em sólido chão, tentava me segurar a algo, como aqueles corpos nus e sem rostos no mar, para não me afogar na falsa calmaria. Mas já nem sei do que falo e nem ao certo o que vi, mas sei bem o que ouvi. Era a brisa chegando e essa dor queimando, como lampião de querosene gasto. Fechei os olhos, tirei o roupão, deixei-me abraçar pelo sereno malicioso, cheio de dedos e sussurros, que tem o dom de afastar a dor. O mar calmo escondera seus corpos, salvos ou engolidos? E o sereno ainda me abraçava, envolveu delicadamente o roupão ao meu corpo adormecido e com a ponta do mesmo, enxugou uma já seca lágrima, com braços sutis carregou-me até a cama, praguejando e ordenando ao mar que não mais me mostrasse seus corpos. Prevendo uma dor somente acuada, beijou-me.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sobre furacões


Eu, homem vivido e viajado
Provindo de país tropical e calmo
De verdes matas e largos mares
Reinventei inverdades que ouvi.

Eu, homem experiente e maduro
Estando em terra de gigantes
Deparei-me com anúncio de desastres
E voltei.

Voltei ao meu país sereno e seguro
Porque apesar de pobre e sujo
Meu país não tem furacões.

Grande foi a minha surpresa
Ao deparar-me em alvoroço
As chaves do carro perderam-se
As ruas em balburdia contínua
Pescoços sem vontade própria
Resignavam-se àquela brisa
Devastadora, inesperada e fascinante.

As paredes do meu corpo ameaçavam sucumbir
Ruas, carros e prédios, turvaram-se em meu olhar
E o furacão ia crescendo, engrossando, levando
Levando tudo no caminho
E sacudiu-me, e pegou-me
E por alguns infinitos minutos
Estive no olho do furacão
Que girava e bagunçava tudo, tudo
Que desiquilibrava e arrastava
Tudo e eu.

Enegreceu-se de repente o meu olhar
Mas não era de morte nem de fim
Não, não espedacei-me em seu giro
Apenas adormeci
E num imensurável presente
Abri os olhos e vi novamente
O olho do furacão
E folguei-me num interminável riso.

Adormeci, rindo da ignorância das pessoas
- Aqui tem palmeiras, não furacões
E apesar de todo alvoroço e desordem
Gostaria de infinitamente perder-me
Neste furacão de olhos cor de noite.

domingo, 25 de março de 2012

Infinitamente


Tão correto e tão bonito, o infinito é
realmente um dos deuses mais lindos.

Eu tocaria aquele antigo bolero
Só para te ver sorrir como antes
Eu tocaria eternamente para você
Se você me sorrisse eternamente
Mas o eterno não seria o bastante
Porque eu quereria tocar-te
Enquanto você sorriria eternamente
E como tocar o violão e o teu corpo?
Então eu compraria uma vitrola
Ou qualquer bugiganga musical
Que aprisionasse a minha voz
Ecoando o seu tão amado bolero
Para que você me sorrisse eternamente
Enquanto ouvia o teu suave bolero
E enquanto eu te tocasse eternamente
Mas o infinito não seria suficiente
Porque eu quereria abraçar-te
E então a musica na vitrola tocaria
Enquanto você sorriria e eu boba
Te tocaria e te abraçaria eternamente
Mas o infinito nunca basta
Porque eu quereria beijar-te
E a vitrola incansável
Tocando tuas doze notas preferidas
Deste teu bolero irritante
Enquanto eu te tocando, te abraçando e te beijando
Sentindo o teu riso dentro de mim
E te beijaria eternamente
Mas o infinito nunca, nunca basta
Porque eu quereria possuir-te
Esconder a tua virilidade em mim
Com voracidade de mulher amada
Enquanto a vitrola toca
E o teu riso massageia o meu interior
E eu te toco, te abraço e te beijo
E o liquido quente e suculento
Fruto deste descompassado amar
Nos grudaria feito cola em papel
Estaríamos tão grudados 
Que me sentiria coisa sem lugar
Invadida pela tua virilidade rígida,
Pelo teu bolero,
E pelo teu riso,
Eternamente
Eu quereria eternamente possuir-te
Mas o que dizer do infinito
Se agora já perdi a noção de tempo, espaço e sabor
Todo sabor que conheço diz respeito ao teu beijo
Não estou em lugar nenhum
Além das estruturas do teu corpo
Que me envolve e me conecta
E me traga como um saboroso cigarro
E cada minuto dura um pouco mais que o infinito
E agora que passamos de dois corpos a corpo impar
Eu já não ouço a vitrola infinitamente tocando esse bolero
Mas sinto teu riso contabilizando lingualmente
Os poros do meu pescoço
E sinto meus seios tocando-te,
E as minhas pernas abraçando-te,
E todo o meu corpo te beija
Enquanto o teu, sussurra virilmente
As doze notas desse bendito bolero.

terça-feira, 6 de março de 2012

Diálogos madrugais

Sabe Bruno, hoje pensei em dizer para ele, e ai vamos transar? Agora?
Alguém que eu mal conheço, alguém que eu não conheço, mas pensei em todo problema que isso me causaria. Se a resposta fosse sim, correria o risco de ter uma transa mais ou menos, com um carinha mais ou menos que eu veria mais ou menos por ai, quando na verdade não quereria vê-lo.
Se a resposta fosse não, eu teria gastado meu latim com um carinha mais ou menos, que vive mais ou menos e ainda consegue mais ou menos me atingir.
Andei pensando, acho que sou louca, me castigo por tantas coisas que não lembro nem de verificar se a ausência dignifica os fatos.
- To fuck or not to fuck minha linda, eis a questão.
A questão não era sexo, desde o começo não era, mas passou a ser bem quando não deveria ser mais nada além de lembrança vazia de um ato inconseqüente, aliás, como tudo que faço.
- Sabe, não sei bem como é isso, mas as pessoas levam tudo muito a sério, uma declaração dessas poderia ter repercussões enormes.
Sim Bruno, as pessoas levam tudo muito a sério e eu não gosto dessa exacerbação de seriedade. É madrugada e não consigo dormir, mas eu não estou chateada por conta da insônia hoje. Contento-me em ler poesias e escreves poesias e ter insônia junto com as minhas poesias. Hoje eu até me daria à libertinagem de um cigarro.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Elo

O meu pretérito é imperfeito
Nasci no avesso do mundo,
E voei...
O meu pretérito é imperfeito
Todos os vícios (quase todos)
Trago-os da boa e velha infância
E num voou rasteiro levantei poeira
Na inquietude dos dias me fiz mulher
E com poeira nas mãos e nos cabelos
Migrei o meu espírito para o mar.
Porque o mar, esse gigante anil
Esse Deus multicor e bestial
De alguma forma inexplicável
É o ícone maior de todos os avessos.

Da insustentável leveza do parasitismo sentimental

Vinte anos. Morando, vivendo e vagando no mesmo bairro e na mesma rua, e só conheço meia dúzia de seres. Amigos? Sim, tenho um ou dois, talvez três, mas se gritar pega os meios termos não fica ninguém, aliás, fica apenas um.
Mas eu adoro sorrisos e abraços e folias. Dou corda e espaço, tinta e tela. Permito-me ser moldada, usada e sorvida pelos meus amigos de muitos lugares e horas, porque eu não consigo menos do que a intensidade, não sei ser menos do que sou. Não, não estou a me contradizer, é que conheço pelo menos uns quatro significados diferentes para a palavra amigo, e levando em conta essa perspectiva, tenho um bocado de amigos por esse mundo.
Mas eu me enojo, me enervo, me bulo toda com os maus vícios desta modernidade vazia de fidelidade nas palavras. Parece que agulhas mutantes de diamante estão penetrando os meus cromossomos todas as vezes que ouço um Eu te amo comercial, ou um Eu te amo produto dos maus vícios e modismos das redes sociais.

O que eu sei é que as pessoas te amam incondicionalmente, amigos de todas as horas, até que se apaixonam e te esquecem, vivem um amor medíocre por um tempo, porque amor que te afasta de coisas boas e primordiais pra mim é coisa medíocre. E o amor acaba, e o coração aperta, e o seu telefone toca. Amiga saudade. Saudade?
- Saudade meu ovo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Inquietações de dia frio

A chuva caindo e trazendo consigo
O frio, o sono e a vontade de amar
A canção tocada pela brisa inquieta
Embalando a doçura da minha noite
Eu desejando ao menos companhia
Para dividir o lençol e as saudades
O sereno da noite tomando forma
Acariciando o meu rosto e a solidão
Na cama encontro mais que o vazio
Encontro a dor aguda,
Desta minha sozinhez.

O cantor e a poetisa

E não são palavras vãs
São premissas dum sonhar
Ele canta suas emoções
Ela escreve-as para guardar
São amigos, são irmãos
São anjos a brincar
Ele brinca com o som
Ela brinca com o falar
Um som doce e suave
Sua canção talvez exale
Utopias pelo ar
Suas poesias são tão belas
São confusas e incertas
Mas não deixam de encantar
Essa voz que vem de dentro
Esse amor que é o centro
Poesias, canções, poemas, sensações
Essa voz que diz que sabe
Sabe nada além de sonhar
São palavras tão sonoras
São sons tão falados
Seus sentidos, meus sentidos
Nossos sentidos entrelaçados
E se me perguntas:
Onde queres chegar?
A lugar nenhum moço
Respondo sem pensar
E porque o caminho é longo
A distância é limiar
Pensamentos tão complexos
Pensamentos tão completos
Pensamentos tão incertos
Se contrastam nos sentidos
Pois talvez ao pé do ouvido
Seja mais fácil de expressar
E porque nem tudo se explica,
Pois nem tudo nessa vida
Possui histórias pra contar
Seus sentidos eu entendo
Meus sentidos compreendo
Nossos sentidos hei de inventar
Se suas músicas me interpelam
Palavras, palavras nos cercam
Minhas poesias irão te buscar
E de onde vem tanta beleza?
São coisas da minha cabeça
Que descubro em teu olhar
Estático, porém verdadeiro
Suas palavras eu incito
Seus conselhos eu reflito
Frutos de uma mesma inspiração
Se escrevo sobre dor
Se escreves sobre amor
Escrevemos sempre o mesmo
O verdadeiro, o verdadeiro
Adivinho-me nas palavras que ouço agora
Se puder não vá-se embora
Ainda é cedo pra partir
Cedo, muito cedo
Existem tantas notas a serem tocadas
Tantas palavras a serem rimadas
E se as palavras nos unem
Elas também podem nos separar
Pedi para que me dissessem
Porque quanto mais longe
Mais perto se está
Disseram-me docemente
O que já estava em minha mente
É que a cabeça dele anda no céu
A sua anda no Mar
Instantaneamente sorri
O Cantor e a Poetisa
Quem podia imaginar
Ele questiona para viver
Ela vive pra questionar
E não precisa entender
O que acontece entre os anjos
Pois são amáveis e gentis
E com gracejos pueris
Ela engana a realidade
Melodias por um triz
Me arrastam para a saudade
O que vejo na verdade
São caminhos se cruzando
Um de sonho
Outro de ilusão
Apenas caminhos
...
Nada mais que isso.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Disegno D’amore

Prendo la carta e la matita colorata
Volevo  fare un disegno per te
Bisogno  disegnarti un nuovo sorriso
Perchè il tuo viso è il rittrato della tristezza

Scegli la matita blu perchè me piace il mare
Mà me piace piú il blu dei tuoi occhi tristi
Rittrateró in tuoi occhi tutta la felicitá che esiste
Almeno nel mio disegno d’amore sarai felice

Ogni linea del tuo viso ha un piccolo pezzo mio
I tuoi occhi, la tua boca hanno i colori del mio vestito
Tuoi cappeli sono brunni come la mia pielle
Il migliore momento è stato disegnare tuo sorriso

Ho fatto un rittrato di te, mà ho colorato anche una buggia
Perché questo sorriso felice e questi occhi blu
Sono di qualcuno che non sei tu
Sono magari della persona que ho amato un giorno
Pero non ce ne piú.

Coisa de pele

Uma distância mutuamente mantida
A fim de assegurar que seus corpos
Mantenham segura distância
Aos olhos dos que vêem e dos que não vêem
É aí que o magnetismo entra em ação
E encontros distraídos acontecem
Olhares fugidios, palavras sussurradas
E os pêlos dos seus corpos
Se esticam como para se tocar
E a razão tenta reinar
Num reino onde o coração faz o que quer
Mera ilusão de sapiência orgulhosa
Pois bem sei que quem manda na Rosa
É seu pobre coração, louco e sem juízo
Eis que te aprisionam entre braços
E suas pernas não dão nenhum passo
Mas seus lábios vão ao encontro dela
Eis que a Rosa se sente acanhada
Sabe que não pode fazer nada
Além de aceitar o seu beijo
Ciência não explica essa ligação
Não é amor, além da fraterna proteção
Não é amizade, além da materna compaixão
É algo sublime e carnal
É coisa de pele!
E todas as vezes que vocês se encontrarem
E todas as vezes que seus olhos se cruzarem
Seus lábios irão se tocar
E se os corações disparam
Não é por sintoma de amor
É por pueril receio
De que os limites pareçam distantes
De que o beijo se faça fecundo
De que os corpos não se separem mais
Tempo e distância não são importantes
Tempo não apaga
Distância não separa
E isso nos olhos dele
É coisa de pele
Atração devastadora
E isso nos olhos dela
È coisa de pele
Tentação em forma de Rosa
Que Deus os livre de uma separação concreta
Porque seus olhos perderiam brilho
Porque seus lábios perderiam malícia
E ninguém entende como tanta doçura
Ofusca tamanho desejo
E quando seu beijo lhe parece distante
Ele a procura noite a dentro e se frustra
Porque não há outros lábios como os dela
Não há outra língua que lhe revele
Suas mãos se perdem pelo seu talhe
E meus olhos registram cada detalhe
Dessa irresistível coisa de pele!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quando o coração sabe mais que a gramática...

Dentre olhares aflitos e preocupados de que aquela obrigatoriedade de diálogo acabasse em uma das nossas intermináveis e vazias discussões - porque tudo que sabíamos era nos odiar, atuar no roteiro fajuto e mal tramado das incertezas mal escritas -, pensei em me retirar, quase sempre esses jogos sem nexo que só servem para nos embriagar me diverte, mas eu estava seriamente entediada. Ensaiei em pensamento um fingir querer ar, quando acordei de um sonso devaneio. Ainda com o olhar distante e vontade de retirar-me ouvi:
 -Avesso.
Mas isso não é adjetivo, balbuciou algum semi-bêbado largado nas almofadas.
-Mas eu não sei gramática.
Não estamos falando de gramática, estamos falando de pessoas e qualificações das mesmas, então diz ai um adjetivo pra essa guria.
-Avesso, dela é tudo que sei.

Meios

Nada é mais belo
Que este sorriso que carrego
Porque é meu e seu,
Sem ao menos ser metades.

Febre

(...)Eu tenho febre, eu sei.
É um Fogo leve que eu peguei
do mar ou de amar, não sei .
Mas deve ser da idade (...)

Eu tenho em minha pele a febre dos lobos
À parte os devaneios de fato tenho febre
A minha pele queima, a minha alma queima
Todo o meu corpo está aquecido pelo inconformismo

Todos caminham em direção aos meus opostos
Tudo mudou ou será que sou eu?
Olho para trás e vejo algo se afastando
É a minha inocência indo embora
Levando junto a minha paz
Não. Tudo está no mesmo lugar
Sou eu que estou migrando meu espírito

Tal qual os lobo tenho sede de liberdade
O meu espírito livre e o meu corpo forte
Sabia o meu lugar na alcatéia
Até matar todos eles

Idealizar os amigos e os amantes
É matar todos os não perfeitos
Dado que todos o são
Só resta eu, meu medo e a minha febre,
Minha alcateia é a solidão.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sobre paixão

Atravessei a rua apressadamente e só do outro lado da avenida reparei na agradável figura de um homem parado no meio da calçada, não era ponto de ônibus, nem faixa de pedestre, nem nada que o fizesse estar ali parado. Pensando agora tenho até a audácia de pensar que ele estava ali parado com a única finalidade de me encontrar.
Foi rápido, foi inexplicável. Eu do outro lado da avenida olhei para o outro lado a troco de nada, parei estupidamente no meio da rua, da mesma forma como ele estava parado do outro lado, foi o tempo necessário para trocarmos alguns olhares e um sorriso. Andei, olhando muitas vezes para trás, tropecei e quando eu estava suficientemente longe a ponto de não discerni-lo das outras pessoas na rua praguejei: Porque eu não atravessei a rua de volta? Me apaixonei.
Voltei para casa pensando naquele sorriso bobo e contraditoriamente malicioso. Adormeci vendo a TV balbuciar qualquer coisa sem importância e sonhei, sonhei com aquele sorriso. Uma tarde inteira desejando, querendo, sentindo arder no corpo a falta do toque e do beijo de um estranho quase perfeito.
Na manhã seguinte a primeira coisa que pensei conscientemente foi “porque eu não atravessei aquela avenida”, a sensação que eu tinha é que se eu tivesse a mesma chance, de estar ali estupidamente parada no meio da calçada trocando olhares com um estranho no meio da rua é que eu atravessaria, convidaria-o pra me seguir, pediria que não fizesse muitas perguntas e me limitaria a dizer que queria passar o dia com ele, em qualquer lugar. Não o fiz quando pude, e passei dois dias quase inteiros, com a estranha sensação de que o mundo estava se acabando dentro de mim. Paixão não saciada é fogo, arde, incomoda, fere, explode. Só consigo me lembrar daquele sorriso e a melhor parte é que tinha um homem junto, tenho a estranha sensação que poderia ser qualquer pessoa ostentando aquele sorriso para mim e eu não perceberia a diferença, esta foi uma consideração idiota que eu fiz num dos inúmeros momentos em que me peguei pensando naquele estranho quase perfeito, ele seria perfeito se tivesse atravessado a rua.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Só e somente só, saudade

Saudade, sim saudade. Aurélio me disse que saudade é lembrança, nostalgia de coisa ou pessoa ausente ou extinta. Saudade, sim saudade, é tudo que restou para nós. Eu não morri e você não partiu, mas aceitei, percebi que o único sentimento que conseguimos manter é saudade. Por que amor é demais para teu corpo inculto e a minha mente insana, porque amizade exige nobreza demais de nós dois e não somos nobres. Eu também não conseguiria amar você, não depois de transformar você em poço de segredos e explicações, não se pode amar a quem muito te conhece.
Saudade, a mais doce e genuína, saudade de corpo e alma. Sem exigências biológicas, sem dependências psicológicas, só e somente só bom gosto de viver.
Se saudade é a única coisa que ficou então eu não quero matá-la, quero que perdure o único laço que ainda temos. Saudade é quase dor, mas não importa, eu suporto pela certeza de um elo que ficou. Saudade, sim saudade do estranho mais meu que já existiu, só e somente só, saudade .

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Poesia adormecida

Ao repousar minha cabeça no travesseiro
Penso nas mais belas coisas e pessoas
Até as dores que por ventura me causam
Tornam-se poesia.
Escrevo rapidamente antes que a luz
Apague-se nos meus olhos cansados
Ou antes, que a serenidade da noite
Me torne o que eu gostaria de ser todos os dias...
Poesia adormecida.

Menina

Eu esqueci teu rosto menina
Mas do teu beijo eu não esqueci
Eu esqueci tua cara, mas seu olhar
Seu corpo magro e teu cabelo claro
Estão tatuados em minha memória.

Hoje, não mais ando pelas ruas a procurar
Em rostos estranhos, o teu rosto tão singelo
Eu esqueci o teu rosto menina,
Mas ainda que não fosse sonho
O teu beijo não poderia ter sido mais real
E o teu toque tão permitidamente invasivo
Ainda esquenta meus pés e o meu corpo.

Eu não me perdoou por ter esquecido
Um rosto tão lindo e tão meu
Mas eu não esqueci menina, teu beijo
E poderia beijar todas as bocas
Em busca de você
Mas tenho medo de perder a tua lembrança
Nos lábios de outra mulher
Prefiro a tua lembrança doce
Que a possibilidade falha de te encontrar

Penso em você todas as noites
Ansiando o mesmo sonho
Eu esqueci teu rosto menina
Mas do teu cheiro eu não esqueci
Eu poderia cheirar muitos corpos buscando-te
Mas tenho medo de perder a tua fragrância,
No corpo de outra mulher.

Eu esqueci teu rosto menina,
Mas você sabe o meu nome e a minha dor.
Conhece a minha voz e o meu choro,
Roubou para si todo o sabor do meu beijo.
Então menina, encontra-me,
Antes que a minha memória ingrata
Apague você de mim.

Conversa de botequim

Olha moço, faz uns cinco meses já, o deixei a contragosto, mas foi preciso. A última pessoa por quem tive algum sentimento, não vejo há mais ou menos cinco meses. De lá pra cá me envolvi e poucas vezes fui envolvida por algumas pessoas, mas só coisas fugazes, muitas vezes impulsionadas pelo tédio . Mas eu descobri meu caro que o modo mais seguro e porreta de matar o tédio é assim, numa mesa de bar, com um bom amigo; ou não, bebendo alguma coisa, vendo as pessoas passarem rindo ou chorando, de um jeito ou de outro, vivendo.
Eu não estou muito certa do que acabei de dizer, porque muitos dos rolos em que me meti foi por causa de uma ida até um botequim qualquer, encontros casuais, e eu sorvendo esse remédio alcoólico anti-tédio. É sim senhor, o sexo é mais que uma necessidade do corpo sabe, é uma coisa da alma. Essa tua cara de curiosidade moço, sempre me faz rir, mas não se preocupa que eu não tenho vergonha de falar dessas coisas não, principalmente numa mesa de bar.
Sim senhor, me envolvi com meia dúzias de caras nesse meio tempo, bonitos; ou não, grandes; ou não, inteligentes; ou não, bons de cama; ou não, mas é como eu lhe disse moço, é só para enganar o tédio. Que engraçada essa tua opinião, mas eu sou assim mesmo, não crio caso com a solidão, tanto faz eu enganar o tempo com uma dose de vodka, umas músicas, uma transa, um truque de cartas ou uma mesa de bar, muito embora eu prefira esta última.
Ah seu moço, não é amargura de coração não, é só cansaço e indolência mesmo, a vida às vezes faz isso com agente, sou moça de sentimentos sim senhor. Apesar de não procurar a fonte, se algum bom aventureiro se encanta por mim e me faz os devidos cortejos, me dizendo essas coisas estúpidas e infantis e engana meus olhos com verdes moradas ou ondulantes recantos, eu me deixo levar e me permito ser penetrada pelo mundo, me desligo, absortamente me emburreço, como toda mulher. Gozo e autorizo gozo, como se fosse um último ato e penso na cria que possivelmente terei um dia, penso na dor da primeira vez, penso que nunca chegara a última, até que eu morra e penso como seria bom fazê-lo todos os dias, com toda sorte de pessoas e aprender coisas novas e estimulantes. Eu sempre penso na dor, dói, mas é bom, dói, mas é tão bom, cansa meu corpo eminha alma, mas eu quero uma, duas, três, até esgotar toda força que tenho. Eu gosto viu moço, ah como gosto dessa minha intensidade.
- Claro menina, sexo é bom e faz bem para o corpo e para alma, sanidade para o corpo e mente, para mim é elevação de espírito.
Sim senhor, eu também acho isso ai, mas olha moço, eu tava falando de amor.

Noite de baile

Mãos quentes desenhando um talhe
Pousando numa cintura provocante
Um pouco de libido e ternura
Beirando a libido à candura
Admirando um corpo de baile
Sorrisos afáveis de insana leveza
Anunciando recusas sensatas
Quando o lábio relutante se afasta
E o corpo teimoso teima
O coração enfim se apazígua
E esta noite de amanhecer não há.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Anjos e pronomes

À Danilo Bitencourt

A minha vida gira em torno do mar
Mas sei muita coisa sobre a terra
Descobri ha muito que habita nela
Seres que não deveriam habitar

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Mas porque são anjos então?
Porque levam consigo o amor
Puro e verdadeiro
Porque levam consigo a bondade
Pura e verdadeira
E porque levam consigo
O mais doce sorriso

São viciados e bobos
Viciados em beijos e abraços
Bobos de rir de pessoas bobas
E dos seus cachos bobos
E dos seus risos bobos
E dos seus medos bobos
E das suas bobas palavras

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Tem um aqui, um ali, um acolá
Tem uns bem perto, outros por ai
Sei que existe mais do que vi
Mas os que vi, quero guardar

Os que estão perto eu nomeio
Meu, minha, nosso
E os convenço a ficar, prendo-os a mim

Às vezes sem precisar convencer
Ouço palavras, suaves armadilhas
“Vou estar sempre aqui para você e por você”
E me perco, me “embobeço”
Vão me ganhando por ai.

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Mas eu não estou nem ai
Para a sua mania estranha
Sua maldade e vergonha
Eu quero tudo que há em ti
E quando volto para o mar, eu levo a saudade,
O sorriso e o abraço mais apertado e dolorido
E o prazer de chamar-te Anjo
...
Meu.

Meias verdades



“Num mundo onde a verdade é o avesso
E a felicidade já não tem mais endereço”

Eu vi, em olhos inocentes e frios
Todas as perguntas inquietantes

Quem decide o que é verdade?
Quem inventou ciúmes e vaidade?
Quem inventou a inútil morte?
Quem privilegiou a má sorte?
Por que respostas são tão vãs?

Esta ultima pergunta me calou
E me encontrei naquele olhar
Vago, inquieto e indagador
Sabia que ia perguntar de amor
E porque somos obrigados a amar

Calei, sem nada ter dito calei
E identifiquei a boca pequena
O olho preto, duro e insultante
O coração dolorido e pulsante
Era eu.

Era eu perguntando a mim mesma
Era o Eu de antes perguntando sim,
Ao Eu de agora porque nada mudou
Sim, também acho as respostas vãs
Mas a vontade de indagar é inata
Às vezes espero resposta sensata
Mas quase sempre ouço clichês
Falsos dogmas e inverdades
Mas quem é que decide a verdade?

Não sei, por isso as minhas criei
A que me faz bem e a ti também
A que me parece justa a todos
A que parece adequada ao mundo
Mas este anda tão imundo e louco
Que eu ando vivendo às avessas
Faço tudo ao contrário, é moda
Mas não roubo nem mato
Sexo é pecado, imoralidade
Mas eu acho é que traz alegria
Se pudesse fazia todo dia, e posso
Amar ao próximo é obrigação
Mas eu só amo quem quero

A minha verdade é boa, mas há quem negue
Só sei que a verdade alheia, não anula a minha
Só sei que a vontade alheia não anula a minha
Mas também todas as minhas respostas são vãs

E eu vi o olhinho preto e confuso
Ensaiando a custo, um sorriso
Me levantei e sai, deixando
Deixando não por descuido
Mas por certeza meio incerta
Que a minha verdade é convidativa
Deixei a porta do avesso
...
Entreaberta.