sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Trânsito

Você superfície
Eu, profundidade
Me agarro ao teu eu, aconchego
Volta e meia me aninho em seu colo
Pra respirar
Pra não morrer
Sozinha, em minha imensidão
Escura, quente, profunda
Esqueço meus limites
Quase morro
Na borda do caos
Limítrofe a outro mundo
Voce me puxa de volta
E eu permaneço viva no seu equilíbrio
Monótono, mas seguro
No vagar dos nossos dias
Eu sou o  caos que te move

Femina

Do brilho que cega
Da força que suporta
Do abraço que cura
Da mão que resgata

Um passo na terra
Um passo apressado
Em direção a dor
Um milhão de seres
Mortos, humilhados e subestimados

Mas há uma voz
Firme e poderosa
O medo lhe agranda
E um eco se espalha

São muitos, são muitos
São de todas as cores
Os primeiros seres
Os donos da terra

Chamem do que quiser
Uns chamam força
Outros chamam Deus
Eu chamo mulher.

Terra Brasilis

Sem ordem
Nem progresso
Só sangue
Muito sangue

De crianças e mulheres
De negros e pobres
Nordestino sangra há muito tempo
Mas agora vai sangrar mais

Continência para o fascismo
Morte, tiros, sim senhor
Se for inocente tudo bem
Querem poder e terror

Mas em algum lugar permanece
Gente de luta, só empatia e amor
Combinam de nos matar
Combinamos de não morrer
Luto é verbo, desde que nasci
Amanhã é outro dia,
Apesar de você.