quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Meios poéticos de adeus


A palavra doce, a palavra sangue
Colorindo amores, sonhos e porquês
O amor em verso, prosa e tudo mais
A poesia presente, a poesia poente
A delatar entre ossos frágeis frios
O Dom do querer e que mal querer
A paz que prometi não encontrei
Encontrei enfim sorrisos incertos
Intenções de mal amar desses dias
Fúteis, promíscuos e fáceis
Almejo distância e nada mais
Mas o ouvido surdo, cego e algoz
Filtrando grunhidos de amor inexistente
Traduzindo promessas não prometidas
Cantando canções não escritas
E pintando telas espectros
Me faz economizar  lágrimas
Venho tristemente contar-lhe
Que existem meios poéticos de adeus.




terça-feira, 30 de agosto de 2011

De olhar...


Quem na vida dá direito às pessoas de entrarem em ti de tal forma a pensar-te e descrever-te em poesias, em versos, prosas e jornais?

O olho preto fosco morto vivo
O olho preto brilhante sagaz
Conheci alguém magro de espírito
Que tentando encontrar brechas
Brechas de ser e de estar
Adentrou pelo meu frágil olhar
Abrindo trilha proibida
Na mata virgem do meu ser
Produzindo canções do eu
Poetizando a minha respiração
E ferindo piamente o pudor
Da tristeza inerte dos meus dias.

Quem na vida traduz a sua dor e joga na tua cara a tristeza dos olhos negros que embora confusos em luzes de engano possuem um ponto de firmeza?

A dor alheia é mais doce
É musica de baile de outrora
E olhos pequeninos são traje
De festa literária do ser

E quem na vida disse que eu tenho medo de pessoas que usam palavras para infringir luz à escuridão por essência?

E da noite fiz dia com um rabisco
Peregrinei palavras proibidas
Brincando de Deus por uns dias
Baguncei o sistema solar por engano
Presentiei prantos e sorrisos amarelos

Odeio todos os poetas, principalmente os que conhecem o poder que tem as palavras e consequentemente eles, por terem domínio sobre as mesmas. Por suposto (excepcionalmente não me odeio).

O silêncio mais alto do dia

As pessoas andam enlouquecendo ao meu redor
Ouvi o sábio dizer que perdeu razões, razão e fé
O autossuficiente sentiu falta do amor que dispensa
O louco provou a todos que Deus se existe é mulher
Achei cartas nas minhas gavetas empoeiradas
E fotografias dos tempos bons e da infância calma
Encontrei recortes amassados, pedaços de vida e alma
Da mulher que outrora foi rainha, mas nunca senhora
Sequer de si mesma...
O mar requisitou-me enfim, hoje por motivos pares
Mais uma vez acolhendo a tristeza parca
Que os seres de terra presenteiam aos irmãos
Amostra grátis de dor, decepção e ceticismo barato
Por favor, fumem todos os cigarros
A minha boca seca não os quer mais
Mas o silêncio mais alto do dia
Foi silêncio dormido de dias corridos
Esperei uma semana inteira para enfim dizer
Ao coração inerte e embriagado
Que o teu silêncio não me ofende mais
E que as mãos sujas não me alcançarão
E as palavras navalhas não mais me atravessarão
Porque se ouvidos ignoram chamados
Posso escrever nos teus olhos a palavra dor
E a caneta vermelha que fere
Devolvo amanhã
...
Junto com teus insultos

domingo, 28 de agosto de 2011

Não obrigada!

O meu não não é um sim disfarçado
A minha tristeza não precisa de cuidados
Dela me ocupo eu, minha razão e meu ego
Erros de vaidade, aceitar afagos gratuitos
Aceitabilidade essa que traz consigo sempre
O erro, o engano, a briga e a palavra suja
Camuflando um cuidar de amor maior
Há de se negar o colo amigo se preciso
E a conversa agradável e o filme da tv
Há de se dispensar toda educação
Porque as segundas são também terceiras
Quartas, quintas e todas as más intenções.
Ensinaram-me a não negar o bem-querer
E o meu sorriso triste? não foi presente
A ordem natural das coisas é o esquecer
A minha tristeza não precisa de cuidados
Dela me ocupo eu, minha razão e meu ego
O sorriso triste é meu, o que de seu tiver
É só resquício de uma cegueira breve
É só resquício de uma cegueira
É só resquício
É só.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Porquês e Pra quês...

Perguntaram-me porque escrevo
Perguntaram-me para que escrevo
Eu lhes pergunto para que vives?
Perguntaram-me o que é uma poesia
A diferença entre a noite e o dia
O mar, a areia em meus cabelos
O cigarro, o perfume e a embriaguez
E indago-me ainda mais uma vez
Não se engasgas com tantos porquês?
E como besta jocosa que sou
Sem necessitar em nada me explicar
Vou contar-lhes o que penso
Sobre tudo o que pensas precisar delimitar
O mar é agua, a areia não
O dia é luz, a noite escuridão
O cigarro e o meu perfume
Ambos são para lhe embriagar
E os cabelos onde ficam?
Bem, dos meus cachos há quem cuidar
Mas a poesia? Essa que ah...
Poesias são letras que não se pode educar
São tentativas desesperadas
De desobstruir as vias respiratórias
Deste meu ser literário
Em constante conflito emocional
Ocasionado por motivos vários
Desde os mais nobres como o amor e o ódio
Até os mais banais como o amor e o ódio
E tenho impressão tal
Que tentando aliviar
O trânsito de sentidos
Digo coisas que não digo
E digo coisas que nunca direi
Escrevo além do permitido
E se compreendes o que digo
Não voltarás a perguntar
Mas se caso pergunte
Muito por muito escutará
Que poesia é amor caligrafado.

Testamento

Para o estranho que me entende e me sente como nem eu mesma ouso, dois sorrisos; um de quase amor, outro de quase tristeza.
Para o louco que ouve coisas que eu não digo e que não diz as coisas que eu nunca precisei ouvir, um suspiro e um lamento pelo adeus desnecessário.
Para o bobo de sorriso fácil, de olhares fáceis, de palavras tolas e colo quente; um pedido, fica.
Para o errado que se julga certo e que teima em negar o amor que tem; sorte, pois vai precisar.
Para o estranho de uma noite só, de palavras corretas, lábios quentes e mãos puerilmente maliciosas; uma ordem, vem.
E para mim, ser de poucas palavras, atos loucos e medos inexistentes; a certeza de que viver por um amor é bom, mas morrer todos os dias por todos os outros amores é ainda melhor.
Aos pobres, minha coleção de moedas raras.

Leve som de mordida

Ao cerrar os dentes suavemente perversos
Tendo entre eles um pedaço vivo de pele
Imediatamente segreguei os sons
O relógio, o cachorro na rua e além da brisa
O perturbador zumbido do silêncio
Como mensurar um som tão tátil?
Como tatear a sonoridade do querer?
Embriaguei-me em pensamentos newtonianos
E lembrei-me que não sou boa em exatidões
Cerrei os dentes novamente
Tendo entre eles além de pele, um coração
E enfim ouvi o leve som de uma mordida
Sem identidade propriamente sua
É uma leve mistura de suspiro interrompido
Com um tempero de libido
E cor de amor
E se precisa de algo mais especifico
Para entender a loucura que digo
Morde
E compreenderá cada detalhe
Desse som que não se ouve.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Batom Vermelho

A minha cor preferida
é vermelho
A minha dor preferida
é vermelho
Na melancólica despedida
O sol esconde-se no mar
Deixando brilhar a lua
Estrela maior da libido
Me enfeito de paz
Falsa paz ou não
Levo no bolso a cor do sim
Que embora as vezes seja não
Marco vidas vazias
Com um sorriso simples, vão
Que já foi um dia então
De propriedade de amor
O meu alcool é vermelho
A minha droga é vermelho
Em batom vermelho embriago-me
Rapto olhares, malícias, desejos
E aproveitando o ensejo
Venho dizer que é vermelho
A cor da minha saudade
Pinto os lábios e esqueço
Que se de amor não se vive
Bebo e me pinto para disfarçar
Porque a cor da tristeza
São todas as que não são de amor.