domingo, 25 de março de 2012

Infinitamente


Tão correto e tão bonito, o infinito é
realmente um dos deuses mais lindos.

Eu tocaria aquele antigo bolero
Só para te ver sorrir como antes
Eu tocaria eternamente para você
Se você me sorrisse eternamente
Mas o eterno não seria o bastante
Porque eu quereria tocar-te
Enquanto você sorriria eternamente
E como tocar o violão e o teu corpo?
Então eu compraria uma vitrola
Ou qualquer bugiganga musical
Que aprisionasse a minha voz
Ecoando o seu tão amado bolero
Para que você me sorrisse eternamente
Enquanto ouvia o teu suave bolero
E enquanto eu te tocasse eternamente
Mas o infinito não seria suficiente
Porque eu quereria abraçar-te
E então a musica na vitrola tocaria
Enquanto você sorriria e eu boba
Te tocaria e te abraçaria eternamente
Mas o infinito nunca basta
Porque eu quereria beijar-te
E a vitrola incansável
Tocando tuas doze notas preferidas
Deste teu bolero irritante
Enquanto eu te tocando, te abraçando e te beijando
Sentindo o teu riso dentro de mim
E te beijaria eternamente
Mas o infinito nunca, nunca basta
Porque eu quereria possuir-te
Esconder a tua virilidade em mim
Com voracidade de mulher amada
Enquanto a vitrola toca
E o teu riso massageia o meu interior
E eu te toco, te abraço e te beijo
E o liquido quente e suculento
Fruto deste descompassado amar
Nos grudaria feito cola em papel
Estaríamos tão grudados 
Que me sentiria coisa sem lugar
Invadida pela tua virilidade rígida,
Pelo teu bolero,
E pelo teu riso,
Eternamente
Eu quereria eternamente possuir-te
Mas o que dizer do infinito
Se agora já perdi a noção de tempo, espaço e sabor
Todo sabor que conheço diz respeito ao teu beijo
Não estou em lugar nenhum
Além das estruturas do teu corpo
Que me envolve e me conecta
E me traga como um saboroso cigarro
E cada minuto dura um pouco mais que o infinito
E agora que passamos de dois corpos a corpo impar
Eu já não ouço a vitrola infinitamente tocando esse bolero
Mas sinto teu riso contabilizando lingualmente
Os poros do meu pescoço
E sinto meus seios tocando-te,
E as minhas pernas abraçando-te,
E todo o meu corpo te beija
Enquanto o teu, sussurra virilmente
As doze notas desse bendito bolero.

terça-feira, 6 de março de 2012

Diálogos madrugais

Sabe Bruno, hoje pensei em dizer para ele, e ai vamos transar? Agora?
Alguém que eu mal conheço, alguém que eu não conheço, mas pensei em todo problema que isso me causaria. Se a resposta fosse sim, correria o risco de ter uma transa mais ou menos, com um carinha mais ou menos que eu veria mais ou menos por ai, quando na verdade não quereria vê-lo.
Se a resposta fosse não, eu teria gastado meu latim com um carinha mais ou menos, que vive mais ou menos e ainda consegue mais ou menos me atingir.
Andei pensando, acho que sou louca, me castigo por tantas coisas que não lembro nem de verificar se a ausência dignifica os fatos.
- To fuck or not to fuck minha linda, eis a questão.
A questão não era sexo, desde o começo não era, mas passou a ser bem quando não deveria ser mais nada além de lembrança vazia de um ato inconseqüente, aliás, como tudo que faço.
- Sabe, não sei bem como é isso, mas as pessoas levam tudo muito a sério, uma declaração dessas poderia ter repercussões enormes.
Sim Bruno, as pessoas levam tudo muito a sério e eu não gosto dessa exacerbação de seriedade. É madrugada e não consigo dormir, mas eu não estou chateada por conta da insônia hoje. Contento-me em ler poesias e escreves poesias e ter insônia junto com as minhas poesias. Hoje eu até me daria à libertinagem de um cigarro.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Elo

O meu pretérito é imperfeito
Nasci no avesso do mundo,
E voei...
O meu pretérito é imperfeito
Todos os vícios (quase todos)
Trago-os da boa e velha infância
E num voou rasteiro levantei poeira
Na inquietude dos dias me fiz mulher
E com poeira nas mãos e nos cabelos
Migrei o meu espírito para o mar.
Porque o mar, esse gigante anil
Esse Deus multicor e bestial
De alguma forma inexplicável
É o ícone maior de todos os avessos.

Da insustentável leveza do parasitismo sentimental

Vinte anos. Morando, vivendo e vagando no mesmo bairro e na mesma rua, e só conheço meia dúzia de seres. Amigos? Sim, tenho um ou dois, talvez três, mas se gritar pega os meios termos não fica ninguém, aliás, fica apenas um.
Mas eu adoro sorrisos e abraços e folias. Dou corda e espaço, tinta e tela. Permito-me ser moldada, usada e sorvida pelos meus amigos de muitos lugares e horas, porque eu não consigo menos do que a intensidade, não sei ser menos do que sou. Não, não estou a me contradizer, é que conheço pelo menos uns quatro significados diferentes para a palavra amigo, e levando em conta essa perspectiva, tenho um bocado de amigos por esse mundo.
Mas eu me enojo, me enervo, me bulo toda com os maus vícios desta modernidade vazia de fidelidade nas palavras. Parece que agulhas mutantes de diamante estão penetrando os meus cromossomos todas as vezes que ouço um Eu te amo comercial, ou um Eu te amo produto dos maus vícios e modismos das redes sociais.

O que eu sei é que as pessoas te amam incondicionalmente, amigos de todas as horas, até que se apaixonam e te esquecem, vivem um amor medíocre por um tempo, porque amor que te afasta de coisas boas e primordiais pra mim é coisa medíocre. E o amor acaba, e o coração aperta, e o seu telefone toca. Amiga saudade. Saudade?
- Saudade meu ovo.