sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sobre furacões


Eu, homem vivido e viajado
Provindo de país tropical e calmo
De verdes matas e largos mares
Reinventei inverdades que ouvi.

Eu, homem experiente e maduro
Estando em terra de gigantes
Deparei-me com anúncio de desastres
E voltei.

Voltei ao meu país sereno e seguro
Porque apesar de pobre e sujo
Meu país não tem furacões.

Grande foi a minha surpresa
Ao deparar-me em alvoroço
As chaves do carro perderam-se
As ruas em balburdia contínua
Pescoços sem vontade própria
Resignavam-se àquela brisa
Devastadora, inesperada e fascinante.

As paredes do meu corpo ameaçavam sucumbir
Ruas, carros e prédios, turvaram-se em meu olhar
E o furacão ia crescendo, engrossando, levando
Levando tudo no caminho
E sacudiu-me, e pegou-me
E por alguns infinitos minutos
Estive no olho do furacão
Que girava e bagunçava tudo, tudo
Que desiquilibrava e arrastava
Tudo e eu.

Enegreceu-se de repente o meu olhar
Mas não era de morte nem de fim
Não, não espedacei-me em seu giro
Apenas adormeci
E num imensurável presente
Abri os olhos e vi novamente
O olho do furacão
E folguei-me num interminável riso.

Adormeci, rindo da ignorância das pessoas
- Aqui tem palmeiras, não furacões
E apesar de todo alvoroço e desordem
Gostaria de infinitamente perder-me
Neste furacão de olhos cor de noite.