segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Conjuga-me

Conjuga-me
Que este presente foi dado
Conjuga-me
Que o futuro é caso pensado
Conjuga-me
No tempo em que verbalizo esse amor
Descomedido e descompassado amar
Conjuga-me nos tempos de outrora
Conjuga-me agora no mais que perfeito silêncio
Do beijo, do abraço e do coito inocente
De criança que sente que amar é doar-se e só
Conjuga-me, que o meu imperativo é condicional
Condiciono a você o meu presente futuro
E o amor que taquigrafei nestas palavras
E o amor que taquigrafei no teu corpo
E cada mordida intencionalmente libidinosa
Faz parte do indicativo de amar
Conjuga-me e eu vou gerundiando
Até que o nosso infinitivo se finde
No fechar de olhos e no brotar do pranto
Porque no momento longínquo
Em que esse amor não mais imperar
Deixarei de ter palavras e gestos e verbos
Para falar e pensar e andar e sorrir e viver
Conjuga-me
 Porque eu existo nas tuas palavras
Eu já verbalizei este amor, agora é a tua vez
Conjuga-me.

domingo, 27 de novembro de 2011

Partidas

Às vezes eu me retiro do nada
Sem eira, nem beira me recolho
Arranco as velhas raízes e parto
Em busca de outros conhecidos

Não os jogo fora, é verdade
Os velhos conhecidos, guardo
Na memória da doce distância
Na verdade eu me jogo fora,
Retiro-me deles, atiro-me longe
E procuro um novo espaço

Que me caiba inteira
Com meus vícios e fantasias
Com minhas bobeiras e sorrisos
Tentei deixar pra trás todos os vícios
Mas sem eles me perco na estrada.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O último poema de um homem solitário

Trancou-se num quarto vazio, passou uma semana inteira somente com a sua própria companhia. Sem álcool, sem drogas, sem comida, sem música, sem paz, sem sexo, sem papel, sem caneta e sem dormir. Sentia-se quase morto, precisava escrever seu ultimo poema, cortou os pulsos, escreveu na parede com o seu sangue, escreveu a coisa mais linda e doce que poderia ter escrito em toda sua vida, e antes que o pulsar em suas veias cessasse, assinou o poema e deitou-se a contemplá-lo, até morrer.
Me perguntaram, morreu de que? Essas pessoas da ciência não sabem de nada. Disseram muita coisa, que morreu de abstinência, de fome, de loucura, de cansaço, de sede ou por cortar os pulsos. Eu disse com toda certeza que a presença daquele homem em minha vida me dera: Oxi seu moço, deixa de dizer bobagem. Ele morreu de tédio, se eu estivesse aqui com ele, teríamos morrido de amor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A paz no Avesso

Eu vim para acabar com a tua paz
De um jeito gostoso e travesso
Eu vim trazer um pouco de cor
De um jeito assim, meio avesso
Eu vim, mas não para ficar aqui
Vim buscar-lhe para levar-lhe
Ali, bem ali, olha mais uma vez
Tem uma porta para o mundo
Bem ali de onde eu vim, vem
A paz que necessito não tem
Não tem silêncio, nem calma
Tem verde, tem flor, tem amor
Tem bicho do mato, tem rio
Tem vento na cara, tem areia
Areia dessas chatas que gruda
A paz que necessito não tem
Não tem espaço para a ordem
Não tem rima para a sorte, só
E somente só
Tem espaço para viver
Assim, meio assim, do avesso.