sexta-feira, 31 de julho de 2015

sem titulo

Com passos de gota de chuva
Ela chega trazendo a beleza
Seu brilho cor de ouro
Seu canto em realeza

Com suas pulseiras dançantes
Ela chega pelo canto dos olhos
Seu corpo de cachoeira
Sua face de espelho líquido
Vem Deusa das águas
Com sua doçura refrescar
Vem senhora rainha
Vem dançar seu ijexá.

Histórias de quase-amor

Um moço magro massageava a minha mão, eu adormeci e quando acordei, havia lábios em meus lábios dormidos. E logo havia meus lábios em pescoço magro e lábios espertos em meus seios pequeninos. Num ato de sinceridade eu regateei: você massageia melhor que beija e eu quero dormir. Estendi a mão.
Um moço de cabeça grande e olhos confusos segurou-me pela cintura, era um desejar tão bobo e doce que eu quase permaneci. Mas havia som de tambor, meus pés ávidos sapatearam por cada pedaço de chão: me espera aqui, segura meu copo, meu casaco e sua vontade, eu volto logo.


Um moço viajante apaixonou-se por uma infante, mas era bonito moço que todas queriam ter. Idade eu não tinha, mas tinha ego e gozei, por possuir o olhar mais cobiçado, querido e desejado. Quisera eu ter idade para saber que o que eu tinha outrora, causou mágoas que até hoje é assunto de muitas rodas: como pode tal criança ter dominio e controle de moço tão bonito, será que era feitiço?

Um moço de costumes virginais, ganhou por meio de festas casuais o olhar e o beijo de moça liberta. Houve muita lenha para pouca fogueira, houve muitos planos pra poucas ações, houve muito desgosto pra pouco gozo. Aliás não houve gozo, só um quase gozo tardio.

Um moço com boca de passarinho, arrancou risos de uma moça em desalinho, assim meio perdida nas decepções. Havia febre, muita febre. Havia riso,muito riso, havia um gostar sincero mas que foi confundido com contrato e compromisso e findou-se em prazo contido. Mas antes teve um gozo gostoso porém deveras sofrido, como quando se tem lápis pequenino pra escrever livro longo que nunca será lido.
Um moço de outro mundo, que só sabia de poesia. Uma moça de batom vermelho, sem compromissos, com poesia na alma e nos bolsos. Uma noite de alvoroço, um beijo sem sabor e uma infinidade de dias de van glória e agonia, de convites e recusas e, claro, de muita poesia.
Um moço ressentido, derrotado pelos números, aplacado pelas expectativas. Tinha a minha atenção e o meu desejo, tinha seu nome palpitando no meu baixo ventre, mas evaporou-se deixando uma saudade e um desejo dos diabos.
Um moço de pele branca e óculos femininos, de mãos incertas e teorias platônicas, de conhecimentos inúteis sobre filmes e canções, de timidez irritante, falar manso e bom gosto musical, com sua teorias loucas e convites irresistíveis, mas este moço não entra na histórias, porque o quase não faz parte deste amor.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Crônica do cotidiano (in)verso

Hoje eu acordei e continuei sonhando. Sonhei com um lugar muito bom, um lugar onde eu queria desesperadamente estar. As pessoas na rua não me cumprimentavam nem me incomodavam. Ninguém sabia meu nome, nem tinha palpites certeiros sobre o meu futuro.
As ruas eram limpas e organizadas, os celulares não gritavam em demasia de decibéis obscenidades ou promessas de vida eterna. As pessoas não se esbarravam em mim e até pareciam amáveis.
Pessoas que eu amo não me acordavam todos os dias com perguntas inúteis, não me acordavam às 8 h da manhã todos os dias nas férias. Não mexiam na minha argila recém-moldada e não me falavam da obrigatoriedade de comer. As minhas roupas estavam sempre onde eu deixava, os meus livros também.
Lá eu também não tinha casa, mas isso não me importava, pois eu dormiria em qualquer raiz de árvore ou qualquer colo de estátua, contemplando a maravilha do céu. Eu acordaria pela manhã e alongaria meu corpo, sem a mortificante sensação de que estou perdendo um tempo precioso. Sentaria em algum canteiro de flores e mesclaria a minha beleza com a delas e a melhor parte é que não haveria olhares e juízos para nós.
O melhor do lugar eram com certeza as pessoas. Cada um se preocupava com as suas próprias mediocridades e não incomodavam ninguém. Por favor e obrigado eram palavras obrigatórias e sinceras, mas nada de sorrisos e olhares forçados.
Cada pessoa fazia a coisa que lhe cabia e estavam sempre ocupadas demais para dizer bobagens proféticas e dar conselhos inúteis.
Eu não precisava me preocupar com o dinheiro que sempre atrasa, nem os julgamentos sobre o meu corpo magro, meu cabelo não incomodava ninguém, andar descalço não era crime, ninguém se importava com a minha condição de bruxa, ninguém incomodava a minha meditação, eu não pensava em me matar a cada hora, não havia coranças sobre os prazos que eu não cumpri, só havia silêncio e uma brisa suave e quase sempre o sol era ameno e de matiz branda.
Não era um lugar impossível, sem inícios e fins, mas era um lugar menos humano com certeza. As pessoas controlavam seus vícios e mazelas para não incomodar ninguém, elas se amavam ao ponto de se privarem de algumas coisas para não incomodar os outros, pois gostariam que os mesmo fosse feito por elas. O silêncio era um mantra amado por todos que em horas oportunas e lugares específicos era interrompido docemente pelo vagar de ondas ou som de pássaros.
Sim, havia som de carros, mas estes eram metódicos e organizados, não chegavam a ser o inferno de ninguém. As pessoas tinham bom senso e boa vontade, mais uma vez a tal da empatia estava por trás disto.
Lá eu escrevia, como e quando tinha vontade. Eu voava em tecidos, estacionava em topos de árvores e em dias de sorte eu tinha as minhas próprias asas.
Os meus cristais estavam sempre espalhados por todos os cantos, mas nunca distantes o suficiente das minhas velas, ervas e orações.
O amor era abundante, mas quando estava longe eu não sofria em demasia ou fantasiava fugas desnecessárias para terras distantes. Ali era tão lindo que eu não tinha vontade de partir por muitos dias.
Eu falei muito das pessoas porque elas eram maravilhosamente diferentes de agora, mas o lugar também tinha muitos encantos. Não há necessidade de detalhamento, pois, o sol era igualmente lindo, o verde era igualmente necessário, porém mais livre. O que de fato era diferente daqui era que o ar era mais puro, as cores tinham um poder de cura maravilhoso e o céu era desesperadoramente belo.