quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Anjos e pronomes

À Danilo Bitencourt

A minha vida gira em torno do mar
Mas sei muita coisa sobre a terra
Descobri ha muito que habita nela
Seres que não deveriam habitar

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Mas porque são anjos então?
Porque levam consigo o amor
Puro e verdadeiro
Porque levam consigo a bondade
Pura e verdadeira
E porque levam consigo
O mais doce sorriso

São viciados e bobos
Viciados em beijos e abraços
Bobos de rir de pessoas bobas
E dos seus cachos bobos
E dos seus risos bobos
E dos seus medos bobos
E das suas bobas palavras

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Tem um aqui, um ali, um acolá
Tem uns bem perto, outros por ai
Sei que existe mais do que vi
Mas os que vi, quero guardar

Os que estão perto eu nomeio
Meu, minha, nosso
E os convenço a ficar, prendo-os a mim

Às vezes sem precisar convencer
Ouço palavras, suaves armadilhas
“Vou estar sempre aqui para você e por você”
E me perco, me “embobeço”
Vão me ganhando por ai.

Anjos perdidos por aqui, eu vi
Sem asas nem vestidos brancos
Com pecados, sorrisos, encantos
Com malícia e sentimentos vis

Mas eu não estou nem ai
Para a sua mania estranha
Sua maldade e vergonha
Eu quero tudo que há em ti
E quando volto para o mar, eu levo a saudade,
O sorriso e o abraço mais apertado e dolorido
E o prazer de chamar-te Anjo
...
Meu.

Meias verdades



“Num mundo onde a verdade é o avesso
E a felicidade já não tem mais endereço”

Eu vi, em olhos inocentes e frios
Todas as perguntas inquietantes

Quem decide o que é verdade?
Quem inventou ciúmes e vaidade?
Quem inventou a inútil morte?
Quem privilegiou a má sorte?
Por que respostas são tão vãs?

Esta ultima pergunta me calou
E me encontrei naquele olhar
Vago, inquieto e indagador
Sabia que ia perguntar de amor
E porque somos obrigados a amar

Calei, sem nada ter dito calei
E identifiquei a boca pequena
O olho preto, duro e insultante
O coração dolorido e pulsante
Era eu.

Era eu perguntando a mim mesma
Era o Eu de antes perguntando sim,
Ao Eu de agora porque nada mudou
Sim, também acho as respostas vãs
Mas a vontade de indagar é inata
Às vezes espero resposta sensata
Mas quase sempre ouço clichês
Falsos dogmas e inverdades
Mas quem é que decide a verdade?

Não sei, por isso as minhas criei
A que me faz bem e a ti também
A que me parece justa a todos
A que parece adequada ao mundo
Mas este anda tão imundo e louco
Que eu ando vivendo às avessas
Faço tudo ao contrário, é moda
Mas não roubo nem mato
Sexo é pecado, imoralidade
Mas eu acho é que traz alegria
Se pudesse fazia todo dia, e posso
Amar ao próximo é obrigação
Mas eu só amo quem quero

A minha verdade é boa, mas há quem negue
Só sei que a verdade alheia, não anula a minha
Só sei que a vontade alheia não anula a minha
Mas também todas as minhas respostas são vãs

E eu vi o olhinho preto e confuso
Ensaiando a custo, um sorriso
Me levantei e sai, deixando
Deixando não por descuido
Mas por certeza meio incerta
Que a minha verdade é convidativa
Deixei a porta do avesso
...
Entreaberta.