segunda-feira, 3 de junho de 2019

Martírio

Um passo no outon
O fim do caminho
O começo de outro
Um ciclo contínuo

A semente que não brota
A folha que cai
E o que tinha de ir
Vai ficando para trás

São cores
São flores
Menos dias de sol

Segue a linha
Vai girando
Vai findando o outono.

Viver é quente

La fora tem ventania
Muita ventania
Aqui dentro tem muito frio
Um coracao vazio
Não me sinto aqui
Não sinto o viver
O frio tem qualquer coisa
De cruel e sádica
Que me arranca de mim
E me joga no limbo
Flutuo
Caminho
Alimento-me
Desperto
Trabalho
Retorno
Durmo
Mas não posso dizer
Que vivo
Porque viver é quente

Deuses não permanecem

Quando olhar o infinito
Certifique-se de acenar
Abrace-o,
Sinta-o,
Dialogue,
Despeça-se,
Porque a beleza do infinito
É ser um deus inalcançável
Que acena sorrateiro
E desvanece-se no primeiro adeus.

Lar doce lar

Do ouro que escorre da terra incendiada
Da dor que emana do grito dos esquecidos
Tiro força para resistir
Dias de luta
Dias de calma
Há dias que a maior das vitórias
É conseguir manter minha integridade
Fome, vaidade, querência, dor
Nada é motivo para roubar sonhos 
E, lá fora
As luzes ainda brilham

Me chame pelo nome

Me disseram menos negra
Porque o meu cabelo é menos crespo
A minha pele é menos escura
Os meus traços são menos marcados
Ora bolas que erro, secularmente o mesmo erro
Julgar o que pode ser visto
A aparência e o parâmetro sutil
Quem há de ter o direito de me dizer o que sou
Quem sou e como estou
Negra sou, negra sou

Patientia

Agrandam-se os rios
Tragam-se as pontes
Impiedoso inverno
Desacelerando a alma

Para regozijo da mente
E sobrevivência do corpo
Existe os fins e recomeços
Calma, ar fresco, um café quente

A luz é logo ali
E a Terra toma seu tempo
Até chegar a redenção
Vou flertando com a primavera

Entra


Está aberta a porta
Meu coração já não se importa
Agora somos seu lar

Descuida
Amor não vai te faltar
Aconchego e música
Alimento, sonhos
Prometo que vai durar

Acomoda-te
Deixa pertences onde quiser
Enconsta teu violão no meu
Guarda ou desarma o que puder

Entra
Estão abertas as portas, as pernas, as janelas
Agora sou o seu lar
Mas, por favor, repara a bagunça.