Atravessei a rua apressadamente e só do outro lado da avenida reparei na agradável figura de um homem parado no meio da calçada, não era ponto de ônibus, nem faixa de pedestre, nem nada que o fizesse estar ali parado. Pensando agora tenho até a audácia de pensar que ele estava ali parado com a única finalidade de me encontrar.
Foi rápido, foi inexplicável. Eu do outro lado da avenida olhei para o outro lado a troco de nada, parei estupidamente no meio da rua, da mesma forma como ele estava parado do outro lado, foi o tempo necessário para trocarmos alguns olhares e um sorriso. Andei, olhando muitas vezes para trás, tropecei e quando eu estava suficientemente longe a ponto de não discerni-lo das outras pessoas na rua praguejei: Porque eu não atravessei a rua de volta? Me apaixonei.
Voltei para casa pensando naquele sorriso bobo e contraditoriamente malicioso. Adormeci vendo a TV balbuciar qualquer coisa sem importância e sonhei, sonhei com aquele sorriso. Uma tarde inteira desejando, querendo, sentindo arder no corpo a falta do toque e do beijo de um estranho quase perfeito.
Na manhã seguinte a primeira coisa que pensei conscientemente foi “porque eu não atravessei aquela avenida”, a sensação que eu tinha é que se eu tivesse a mesma chance, de estar ali estupidamente parada no meio da calçada trocando olhares com um estranho no meio da rua é que eu atravessaria, convidaria-o pra me seguir, pediria que não fizesse muitas perguntas e me limitaria a dizer que queria passar o dia com ele, em qualquer lugar. Não o fiz quando pude, e passei dois dias quase inteiros, com a estranha sensação de que o mundo estava se acabando dentro de mim. Paixão não saciada é fogo, arde, incomoda, fere, explode. Só consigo me lembrar daquele sorriso e a melhor parte é que tinha um homem junto, tenho a estranha sensação que poderia ser qualquer pessoa ostentando aquele sorriso para mim e eu não perceberia a diferença, esta foi uma consideração idiota que eu fiz num dos inúmeros momentos em que me peguei pensando naquele estranho quase perfeito, ele seria perfeito se tivesse atravessado a rua.
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