Não aquela de resto, mas a sobra do excesso.
O que já não me servia era levado
Presenteado a outras de menos posses
Que passeavam ligeiras a nova roupa
O cabelo crespo, solto, revolto
Em original liberdade do pentear
Eu com o meu cabelo uniforme, preso
Em intermináveis tranças de menina cuidada
Me sentia igualmente livre quando as vezes
Traquinamente arrancava as minhas fitas
O vestido florido do ano passado
Vestia-se de nova primavera
Cobrindo corpos sonhadores
Pequenos, magros, frágeis
O sapato pequenino piamente polido
Machucavam pés que já não eram meus
Os brinquedos menos preferidos
Esses não eram levados
Mas a minha inocência de saber que o meu pouco
Era muito por companhia
Fazia me dá-los de boa vontade
Lembro-me das bonecas que partiam
-Foram à Paris diziam
As recalcadas que ficavam
O tecido roubado da caixinha
Pedaços de linha e pontinhos de sangue
Nos dedos traquinos e habilidosos de tear
Produzindo vestidos de festa e todo tipo de remendo
Às bonecas, peças dos melhores sonhos de infância
E se ainda hoje recordo-me do não ter muito
E ainda assim ter tudo aos olhos de quem pouco tinha
Também recordo-me das preces de noites e dias
Em que a um certo pai do céu pedia
- “ Que nunca me sobre,
Para que a outro não falte”
Amém!
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